terça-feira, outubro 31, 2006

"Escolhas" (IV)

Perguntaste-me se eu tinha certeza de que era mesmo isso que queria. Sinto, de verdade, que desta vez é diferente. A minha casa e a minha cama já se tornaram grandes demais para uma só pessoa. Sem ti aqui, a casa fica silenciosa demais. Quando, da outra vez, te pedi para ir embora sentia-me sufocada. Naquela altura as coisas não foram pensadas e aconteceram rápido demais. Agora é diferente. Não sei explicar porque é que é diferente, mas sinto, sei, que é. O que sentimos um pelo outro está mais amadurecido, mais forte. Não posso prometer-te que vou ficar contigo até ao fim da vida. Nem tu podes prometer-me que vais ficar comigo para sempre. A única coisa que podemos fazer é lutar para ficarmos juntos sempre mais um dia, e quem sabe assim, conseguirmos chegar juntos ao fim da vida. É claro que eu adorava que o que vimos hoje enquanto passeávamos no jardim acontecesse connosco. É claro que eu adorava que quando fossemos velhinhos como aquele casal andássemos assim, de mãos dadas e cheios de amor um pelo outro reflectido nos nossos olhos. Só que não te posso prometer que assim será. Apenas posso prometer-te que darei o melhor de mim para que assim seja. Percebo o teu receio. Já te pedi que saísses da minha casa e da minha vida uma vez. É com os erros que se aprende. E aquela separação fez-me perceber que é contigo ao meu lado, na minha casa, de verdade dentro do meu mundo, que posso ser feliz.
Quero que penses bem. Sei que depois do que aconteceu com a tua Avó Madalena te agarraste ainda mais ao que sentimos um pelo outro, como se eu me fosse embora outra vez. Mas não quero que seja esse o motivo que te leve a aceitar o que te proponho. Quero que venhas viver cá para casa outra vez, sim. Pensei muito nisso. É o que quero, porque o que sinto por ti é maior do que alguma vez julguei ser capaz de sentir. Não vou pressionar-te para que tomes uma decisão. Sabes bem que seria incapaz de o fazer. Só te peço que penses com carinho no que te proponho.
Fecho os olhos e tento serenar a mente. Estou agitada, ansiosa e cheia de medo. Sim, também eu tenho medo. Mas não vou deixar que ele me tolde os sentidos. Vou saber esperar por ti, pelas tuas respostas, pelas tuas seguranças, pela tua chegada. Vou ser paciente. A decisão é muito importante e vai provocar novas alterações nas nossas vidas, mais desta vez do que da outra.
A inauguração do teu restaurante está quase a chegar. É já no próximo fim-de-semana. Sei que essa é mais uma das tuas grandes preocupações. Está tudo pronto, mas sei que estás mais nervoso do que uma criança que vai pela primeira vez à escola. Talvez tenha escolhido o momento menos próprio para te pedir que tomasses uma decisão destas, mas sei que se não o tivesse feito agora iria acabar por perder a coragem. E acredita que se foi difícil arranjar coragem para te dizer tudo aquilo, ainda mais difícil foi aguentar os segundos que se seguiram. O teu semblante carregado, sério e impenetrável fez-me tremer da cabeça aos pés. Acho que naquele momento senti medo como já não sentia há muito tempo. “Sabes aquilo que me estás a perguntar? Tens certeza de que é isso mesmo que queres Marta? Não podes voltar a fazer-me entrar no teu mundo para no momento seguinte me mandares embora outra vez!”. Gelei! Tinhas todas as razões do mundo para me falar daquela maneira. Mas, apesar de ter consciência disso, não consegui deixar de me sentir magoada e triste. Disse-te que sim, que sabia bem o que queria, que desta vez era diferente. E esperei que acreditasses em mim e nas minhas verdades. Não fiz nem posso fazer-te juras de amor eterno. Conheces-me bem demais para saberes que sou incapaz de o fazer. Apenas posso estender-te a mão, trazer-te para perto de mim, aninhar-me em ti, tentar conquistar-te um pouco mais a cada dia que passa e deixar-me amar por ti. Sim, porque já não tenho medo que me ames...
Olho constantemente para o telemóvel e para o telefone que insistem em não tocar. Aguardo notícias tuas, mas parece que ainda não é hoje que me vais dar uma resposta. O tempo está a passar e eu começo a ficar impaciente. “Tens de aprender a saber esperar Marta!”, dizes-me tu tantas vezes. Só que eu não sei esperar, e com tanta espera já estou a desesperar. Desta vez vou ser forte e conseguir. Vou mostrar-te que sou capaz de esperar por uma decisão. O ditado diz que “Quem espera sempre alcança”, e eu quero acreditar que assim seja. Mas começo a sentir-me muito pequenina nesta casa.”

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