terça-feira, dezembro 26, 2006

Amizades...

Realmente é verdade, muitas são as amizades que criam alicerces e se edificam numa mesa de café. Mas há muitas outras formas de criar novas amizades, ou de, pelo menos, começar a desenhar os contornos do que pode vir a ser uma amizade. Eu estou a gostar de as descobrir. A ver vamos se as amizades, realmente, podem nascer assim!

quinta-feira, dezembro 21, 2006

No final de um dia cansado...

Gosto deste lugar. Faz-me sentir bem. É apenas um café, eu sei. Mas tem qualquer coisa de “meu”.


É como se fosse um fragmento do meu Porto. Nos últimos dias as saudades têm sido mais do que muitas. E café de ontem, numa das melhores companhias de sempre, no fim de um dia cansado e carregado de emoções, num lugar que me leva de volta, ainda que por breves instantes, ao “meu outro lugar”, não poderia ter-me feito melhor.


Depois do café uma caminhada pelas ruas da minha cidade. Vi a famosa Árvore de Natal (era uma vergonha estar ali tão perto e não a ter visto, ainda).


E fotografei as iluminações de Natal da minha rua.


No fim voltei para casa com a alma mais leve e um convite inesperado. A vontade de aceitar é mais do que muita, mas a tristeza e o desânimo de hoje ainda não passaram.

Pode ser que amanhã o dia seja melhor...

Quando (já nada é intacto)

"Quando de repente num segundo
qualquer coisa me vira do avesso
e desfaz cada certeza do meu mundo"

[Quando (já nada é intacto)]
[M.V.]

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Adoro-te...

A tua tristeza entristece-me...
Queria tanto poder curar as tuas feridas e fazer-te sorrir como só tu sabes...
Adoro-te...
Nunca te esqueças, nem duvides, disso...

sábado, dezembro 16, 2006

Um Ano Depois...

Faz hoje um ano que tentava perceber os porquês do fim de uma amizade...
Faz hoje um ano que começava a tomar consciência de que tinha perdido um amigo...
Faz hoje um ano que os vi chegar...
Faz hoje um ano que nos sentamos na mesma mesa para ter uma conversa séria...
Faz hoje um ano que a primeira pergunta levantou o véu da mentira...
Faz hoje um ano que as palavras me feriram e me fizeram perder quase por completo a confiança nos “outros”...
Faz hoje um ano que a verdade foi revelada fazendo cair as mentiras em catadupa...
Faz hoje um ano que me foi dada a razão que eu preferia não ter tido...
Faz hoje um ano que fui incapaz de verter uma lágrima sequer, enquanto por dentro um pranto incontrolável me lavava a alma...
Faz hoje um ano que mais uma “amizade” se desfez, como se de um castelo de areia destruído pelas ondas do mar se tratasse...
Faz hoje um ano que terminou aquela que entrou para a minha história como umas das piores semanas da minha vida...
Faz hoje um ano e os porquês das mentiras ainda se passeiam na minha mente...
Faz hoje um ano e, por vezes, ainda dói...

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Para Ti...

Qual o teu traço a pincel
A história da tua vida
Escrita, sentida, tatuada na pele
Quem lá escreveu
Com a tua permissão
Nem sequer, nem sequer percebeu
E perdeu a folha pele
Por entre as mãos"

("Pele", Polo Norte)



Enquanto conduzia a caminho de casa passou esta música no rádio.
Lembrei-me de ti.
O meu dia hoje não foi bom e parecia nunca mais acabar.
Ver o teu comentário ao meu último post fez-me ficar ainda mais triste do que já estava...


PORQUÊ???

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Idiotice do dia!!!

"E se em vez de assinarmos a folha nos contassem a todos?"
Mas quem é que deixou aquele cromo entrar???
Valha-nos Deus...
O que vale é que ainda me fartei de rir com tanta falta de bom senso...
Não é meu hábito rir-me assim das figuras tristes dos outros, até porque também tenho os meus momentos menos brilhantes, mas este já anda a irritar com tanto disparate junto...
Irra!!!

terça-feira, dezembro 05, 2006

Momento menos bom...

De volta “...ao princípio do meu fim...” não sei o que responder à voz que escuto do outro lado do telefone. As palavras que tento dizer não exprimem o que cá dentro retenho sem querer. O medo e a ansiedade. A vontade de não recordar. As marcas do que já foi. E as barreiras, as limitações que as erosões da vida me impuseram. O não querer voltar “...ao princípio do meu fim...” e sentir que estou mais perto de lá chegar do que esperava. O calar! O calar de tudo o que não consigo dizer. E as repetições. Como se a vida fosse um filme que revejo e se repete de cada vez que chega ao fim. Sem dúvida alguma, um momento menos bom. Amanhã será um dia melhor! Espero eu...

sexta-feira, dezembro 01, 2006

"Escolhas" (VI)

“Nada fazia prever o que aconteceu. Sinto-me devastada, como se um comboio me tivesse passado por cima. A inauguração do teu restaurante foi um sucesso. Não podias estar mais feliz. Confesso que quando vi o teu Pai entrar tremi. Ele sempre quis que seguisses as pisadas dele e, recordo-me, de me teres contado que quando decidiste tornar-te médico, ele te ter dito que seres médico era o maior orgulho que poderias dar-lhe. Sei que foi o medo de o desiludir que te fez adiar o desejo cozinhar. Mas sempre quiseste fazer da culinária a tua vida, e sei que foi necessária muita coragem para te dedicares a isso. E eu estava nas nuvens por poder partilhar aquela felicidade contigo. Mas depois... O “porquê” do que se seguiu ainda continua a fazer-me muito mal. Já passou quase um mês, mas ainda sinto como se tivesse sido ontem.
“Precisamos de conversar, Marta.”, disseste tu quando chegámos cá a casa naquela noite, e a expressão do teu rosto mudou radicalmente. Gelei. Mas nunca imaginei o teor da conversa que se seguiria. “Senta-te, por favor.”, pediste-me com cuidado. Sentei-me a medo, não estava a perceber nada. Parece que ainda estou a ouvir as tuas palavras, repetidas vezes sem conta, como se tivessem ficado gravadas no disco rígido das minhas lembranças. O teu tom de voz mais grave e pausado do que era costume fizeram-me ficar presa ao sofá. Não me lembro muito bem das palavras que saíram da tua boca, mas o essencial, a realidade para a qual me empurraste, entranhou-se em mim e ficou tatuado na minha alma. Aconteceu tudo tão depressa.
Nunca havia tido coragem para te perguntar como tinha sido a tua vida durante o tempo que passou desde que te pedi para ir embora até ao dia em que voltamos a encontrar-nos. Sempre achei que não tinha esse direito. Mas se tivesse perguntado talvez me tivesse poupado a esta realidade que me assombra e que me devastou como se um punhal me trespassasse o peito. A verdade é que nunca fui, verdadeiramente, traída. Não estávamos juntos por culpa minha e a vida tinha de continuar. Ainda assim não consigo deixar de me sentir traída, magoada, destruída. Afinal a “amiga” do André não era “amiga” dele. Afinal o filho que ela vai ter é teu e não dele. Afinal a vida pregou-nos uma partida que nos levou para longe de nós, mais uma vez, pela última vez. Disseste-me que não tinhas a certeza se o filho dela era mesmo teu, ou não e que querias confirmar a paternidade assim que a criança nascesse. Disseste que era comigo que querias ficar para o resto da vida, e que se realmente o filho fosse teu íamos saber adaptar-nos a essa nova realidade. Mas tudo não passaram de meras palavras. Não fui, nem sou, capaz de lidar com isso. A verdade é só uma: vais ter um filho com outra mulher. Todas as verdades envolventes e que consubstanciam a realidade em que isso aconteceu são, para mim, secundárias. Estou a ser intransigente? Estou a ser inflexível? Sim, se calhar estou mesmo. Até porque os teus argumentos são os mais válidos possíveis. Sim, é verdade que não estávamos juntos porque eu te tinha mandado embora e que tinhas de seguir com a tua vida. Mas não sou capaz.
Acabei por te voltar a pedir que saísses da minha vida. E ver-te sair pela porta outra vez fez-me sentir que o meu mundo tinha ficado mais triste e mais pequeno. Custou-me muito, mas sei que fiz a coisa certa. O teu lugar é ao lado do teu filho. Porque se fores mesmo o Pai daquela criança, como eu acredito que sejas, sei que nunca te irias perdoar por não acompanhar o seu desenvolvimento e o seu nascimento. Está a custar-me horrores. E custa-me mais ainda quando penso que esse filho deveria ser “o nosso filho”, e não o teu filho com outra mulher. Mas o destino resolveu que não seria assim.
E desta vez a vida tem mesmo de continuar. Digo-te, mais uma vez, “Adeus” na esperança de conseguir arrancar-te de mim. Mas está a ser tão difícil...”


Nota: Depois de duas semanas de interrupção, volto hoje a publicar a estória "Escolhas". A partir da próxima semana retomarei as publicações desta estória às terças.

sábado, novembro 25, 2006

As palavras, os silêncios, as partilhas e Nós...

Voltámos a desfiar a alma uma da outra. É inevitável que isso aconteça de cada vez que nos sentamos frente a frente, naquela mesa do nosso "Spazio", com as nossas italianas e os nossos copos com água como testemunhas silenciosas do que somos no mais íntimo de nós.

Olhaste para mim e sem que eu dissesse uma palavra disseste-me que não estava bem. Sorri-te. “Começa a falar”, disseste-me tu. E eu falei. Disse muito, e calei outro tanto. Os silêncios partilhados. Os silêncios ensurdecedores das nossas almas e dos nossos sentimentos, que dizem e mostram tanto. Calei-me e voltei a falar. Falei do que quero, do que não quero, da corda bamba, das incertezas, do que nem sequer sei falar.

Olhaste-me com um ar enigmático e fizeste a pergunta que me fez tremer: “Onde é que está a Maria do Gustavo? A Maria de há três anos atrás?”. Respondi-te que estava guardada num recanto qualquer de mim. Cresci e mudei, e aquela Maria transformou-se no que sou hoje. Se o que sou é bom, ou mau, se me agrada, ou não, ainda estou a descobrir. Até agora o balanço é positivo. Daqui para a frente logo se vê.

Guardei na memória cada uma das tuas palavras. Sei que tens razão em muitas delas, em quase todas, diria mesmo. Sei que há riscos que não quero correr. Sabes como sou. Somos parecidas demais. “Somos tão parecidas que até chateia!”, dizes tu. E talvez seja por isso que não preciso de escrever muito mais sobre aqueles assuntos, tal como não precisei de dizer, para que percebas bem o que quero significar. E é por isso que te digo que não vou deixar, não vou dar espaço. O passado, ainda que recente, vai continuar a sê-lo. E o futuro será o que tiver de ser.

Adorei ver-te assim, tão calma, tão serena, tão feliz. Somos o que a vida tem feito de nós. E sinto-me muito feliz por presenciar o que ela te dá. Porque acredito que os bons são sempre recompensados. E estou certa que o momento que vives é apenas uma das muitas recompensas que a vida tem guardadas para ti.

Hoje, depois de muito pensar, tenho certeza do que não quero. Tudo o resto se resume à “certeza das incertezas” que me envolvem.

Se ao menos a Borboleta e a Andorinha ainda fossem capazes de voltar a voar...

domingo, novembro 19, 2006

Olhos nos olhos...


Dizem que um brinde deve ser feito olhos nos olhos. Se deve, ou não, não sei. Mas que tem qualquer coisa de diferente, lá isso tem.
Após um brinde com um amigo, e no seguimento da conversa que tivemos depois, surgiu-me este pensamento. E recordei uma das últimas vezes em que se fizeram brindes olhos nos olhos. Foi engraçado...

terça-feira, novembro 14, 2006

Do outro lado da rua...


A vista deste lugar é lindíssima. Nunca imaginei que do outro lado da rua iria encontrar um lugar assim, tão calmo e tão alheado da agitação da Baixa. O frio que já começa a fazer-se sentir, e de que tanto gosto, tornou ainda mais agradável aqueles momentos. A companhia foi excelente, porque a companhia dos amigos é sempre sublime! Só foi pena o nevoeiro que não deixava ver a outra margem. A Árvore de Natal gigante que se vai iluminar no Terreiro do Paço já se avista, imponente como ela só. Quero voltar uma noite, quando ela já estiver acesa, para apreciar, condignamente, a beleza do Natal vista deste lugar calmo e sereno, em pleno coração de Lisboa!
Nota: A publicação da Parte VI da estória "Escolhas" vai acontecer, esta semana excepcionalmente, na 5ª-feira.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Verdades

No caminho de regresso a casa, com as janelas abertas e o rádio a tocar um pouco mais alto do que é costume, veio-me à cabeça a conversa de sexta à noite. As palavras que podem conter alguma verdade. A verdade partilhada que pode ser encarada de muitas maneiras, dependendo de quem a vê, de quem a tem como sua. Se aquelas palavras têm, ou não, algum fundo de verdade, só o tempo o dirá. Eu não sei se têm. Mas se têm, eu preferia que não tivessem...

sábado, novembro 11, 2006

A Catarina chegou!!!


A Catarina nasceu! E é linda! Sim, sim, sou uma tia babada e feliz, mais uma vez!

É através destes seres frágeis e delicados que a vida se renova e ganha um sentido reforçado!



Espero que a vida te sorria sempre e que conserves em ti, quando fores mais crescida, a felicidade dos meninos pequeninos!



Bem vinda ao mundo, minha Querida!

quinta-feira, novembro 09, 2006

Desafio das Manias

O Pedro achou por bem "desafiar-me", e como eu não viro as costas a um bom desafio aqui vai! Só é pena é que só se possam enunciar 5 manias. Confesso que antes de escrever tive alguma dificuldade em escolher as que iria colocar aqui. Foram estas as eleitas. Mas quem me conhece sabe que existem mais algumas... ;-)

Regulamento: "Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."



Primeira mania muito pessoal: Escrever. Escrevo muito e guardo quase tudo o que escrevo. Tenho imensos cadernos cheios de momentos, sonhos, alegrias, tristezas, sorrisos, gargalhadas, frases soltas, poemas, estórias, muita história, etc. Isto para não falar das folhas soltas, dos pedaços de papel de guardanapo, entre outros, onde as palavras transbordam de sentido e significado. Escrevo muito e guardo tudo. Dou muito valor às palavras e cada uma delas é para mim como um tesouro. Além das palavras escritas em papel, tive, além deste, um outro blog que foi o meu refúgio e a minha partilha durante dois anos e meio. Enfim, adoro escrever!!!

Segunda mania muito pessoal: Música. Sou completamente viciada em música e ouço-a de acordo com o estado de espírito. Quando me apaixono por uma música ou por um álbum ouço-os vezes sem conta, sem nunca me cansar. Não me restrinjo a um só tipo de música. Ouço desde música portuguesa, da qual destaco, obviamente, Mafalda Veiga, Rui Veloso e Jorge Palma. Passo pela música clássica e pelo rock (especialmente o dos anos 80),, e perco-me, reencontrando-me tempos depois, no jazz. A música faz parte do que sou.


Terceira mania muito pessoal: Cantar. Ou melhor, trautear. Cantar cantava antes, quando tinha 15/16 anos e me juntava com um grupo de amigos no campo de jogos da secundária e passávamos tardes inteiras a conversar e a cantar, a cantar e a conversar. O Miguel levava a guitarra e cantávamos todos juntos. Hoje é mais trautear as músicas que naquele dia me passeiam na cabeça. E isto acontece todos os dias. Passo muito tempo nisto... Às vezes nem já eu me posso ouvir!!!

Quarta mania muito pessoal: Ter as unhas sempre arranjadas e pintadas. Adoro ver as minhas unhas arranjadas e pintadas. Sempre que o verniz começa a lascar lá vou eu tirá-lo e pintá-las outra vez. Limo-as pelo menos duas vezes por semana, e troco o verniz com a mesma frequência. Quando as pinto com cores mais escuras (especialmente no Inverno), pinto-as com mais frequência (três vezes por semana) porque o verniz escuro lasca com mais facilidade e eu DETESTO ver falhas no verniz. Quando ando com as unhas menos bem arranjadas ou ando mesmo com falta de tempo ou alguma coisa não está bem.

Quinta mania muito pessoal: Cachecóis e encharpes. Adoro estes acessórios tão quentinhos e úteis. No Inverno é raro o dia em que não coloco um cachecol ou uma encharpe. Tenho-os num número significativo e em diversas cores. Manias... ;-)


E agora depois de responder ao desafio do Pedro, é a minha vez de desafiar 5 pessoas.

And the winners are:
1 – M.zinha do Histórias;
2 – K8tye do If you only knew;
3 – Inês do No Rasto do Sol;
4 – Magda do Sexo e Cantina;
5 – Álvaro do The Why Incision.

E os avisos nos respectivos blogs seguem já a seguir... ;-)

terça-feira, novembro 07, 2006

"Escolhas" (V)

"Nem queria acreditar quando senti a tua mão pousar-me no ombro. Já não me lembrava que nunca havias devolvido a chave que te dei quando vieste morar comigo da primeira vez. Ao ouvir-te chamar o meu nome foi como se acabasse de sair de uma espécie de transe que me fazia pairar. Não queria acreditar. Estavas ali, na minha casa, com a mala à porta do quarto, pronto para ficar comigo. Percebi que não era uma mudança definitiva. “Tens de perceber que não posso arriscar tudo. Vamos ver se desta vez resulta, sem promessas que não possam ser cumpridas.”, disseste-me com um ar grave e compenetrado. Respondi-te que sim, que te percebia e que também não queria errar outra vez. Aquele momento foi bastante esclarecedor. Desci das nuvens. Mostraste-me, em poucas palavras e num gesto simples de levar apenas uma mala, que ias tentar, mas que ao mínimo sinal sairias de cena, como se estivéssemos num palco a representar uma peça de teatro. Confesso que a vontade que tive naquele instante foi dizer-te que não te queria pela metade. Mas, no fundo, sabia, e sei, que apenas estavas a proteger-te de mim e do mal que eu poderia voltar a fazer-te. Percebeste o que estava a sentir. “Não faço isto para te magoar. Longe de mim fazê-lo. Se assim fosse não tinha vindo. Mas tenta entender. Esta é a minha maneira de me proteger. A segurança de que preciso vem com o tempo, e tens de ajudar-me a construí-la”, disseste-me com o mesmo tom de voz doce e terno com que falas com a Maria quando ela cai, se magoa, corre para o teu colo e com aquela vozinha meiga de menina pequenina te diz: “Tio, tenho dói-dói.”. Só que eu não tenho 4 anos e não sou a Maria. Sou uma menina um pouco mais crescida que já te fez sofrer uma vez e que, agora, apesar de te ter de volta tem de saber lidar com os erros que cometeu. Sei que vai ser complicado. Sabia-o quando voltamos a ficar juntos, mas ter-te outra vez compensa todos os esforços. Fechei os olhos e deixei-me abraçar por ti. Não queria pensar em nada. Sentia-me feliz e queria viver aquela felicidade, durasse ela o tempo que durasse.
Estava a sentir-me tão bem em ter-te ali, como já não sentia há muito tempo, que nem me dei conta da insistência do telemóvel em tocar. Quando, finalmente, olhei para o irritante objecto que tocava e vibrava freneticamente na mesa-de-cabeceira e percebi que era trabalho, estive a ponto de não atender, mas não podia fazê-lo. E, meio contrariada, lá atendi a chamada. Foi um telefonema rápido, mas não o suficiente para não conseguires surpreender-me. Quando desliguei já tocava aquela música. “Lembras-te?”, perguntaste-me com um sorriso malandro e os olhos a brilhar. Claro que me lembrava. Foi o primeiro disco que me ofereceste! Recordo-me de o termos ouvido a noite inteira, repetido vezes sem conta. Um disco de duetos. Ella Fitzgerald e Louis Armstrong, duas vozes que amo de paixão e que se completam numa sonoridade capaz de me fazer voar. Colocaste a tocar aquela música, a “nossa música”, que tocava quando nos beijamos pela primeira vez - “Love is here to stay”. Abracei-te a cantaste-me baixinho ao ouvido, em tom de sussurro “Its very clear, our love is here to stay, not for a year, but forever and a day” e eu descansei a cabeça no teu ombro, sentindo que desta vez nada nem ninguém poderia separar-nos. Mergulhei ainda mais no teu abraço e senti-me plena. Dançamos ainda um bom tempo assim, abraçados e juntinhos, como se fossemos um só. E foi assim, unidos como se fossemos um só que acabámos por adormecer.
O dia seguinte amanheceu chuvoso. A chuva e o vento que fustigavam a janela, aliados ao aroma a café acabadinho de fazer e a torradas quentinhas, foram o meu despertador natural. Ouvi-te trautear uma música qualquer que não consegui identificar e voltei a mergulhar nos lençóis. “Vai valer a pena!”, sussurrei de mim para mim.
A inauguração do teu restaurante é já no fim-de-semana. O início da realização do teu sonho. Espero que saia tudo como esperas. Estás tão feliz e tão nervoso..."

sábado, novembro 04, 2006

Gosto Muito de Ti!!!

Gosto de te ver assim, com vontade de sorrir e com a esperança, ainda que disfarçada, espelhada no olhar. Dizes que não. É óbvio que dizes que não. Nem poderia ser de outra maneira. O teu instinto de auto-protecção faz-te refugiar no que passou. Utilizas as palavras outrora ditas como escudo. É mais fácil acreditar nelas do que pensar, por breves instantes que seja, que as palavras e os sentimentos possam ter-se transformado. É para ti impensável que eu possa ter razão. Percebo-te, sorrio de mim para mim, e para ti também, e fico feliz por te ver tremer assim outra vez. Fico feliz por sentir que pode estar a caminho a felicidade que tanto mereces.
Sei bem que estas coisas levam o seu tempo. Sei, ainda melhor, que há feridas que levam tempo demais a sarar. Também sei que por vezes procuramos uma cura milagrosa para essas mesmas feridas. Mas as feridas levam o seu tempo a cicatrizar, e não há cura milagrosa que acelere o processo de cicatrização. As tuas feridas estão saradas e os teus fantasmas exorcizados para sempre.
O passado não se repete, minha Querida, e não tens de ter medo de nada. A vida, mais cedo ou mais tarde, acaba por recompensar os puros de alma e bons de coração. Tu és uma dessas pessoas cuja recompensa não tardará. E eu vou estar aqui para celebrar contigo, e por ti, a felicidade, seja qual for a forma através da qual a vida resolva presentear-te. Até lá só me resta acreditar que tenho razão (porque eu sei que tenho!!!) e mostrar-te que Gosto Muito de Ti, mesmo com esse teu mau feitio, essa tua rabugice e essa tua arreliante “virtude” de chegar SEMPRE atrasada ;-) !!!
Segura a minha mão e não tenhas medo. Agora é a minha vez de não te deixar desistir...

terça-feira, outubro 31, 2006

"Escolhas" (IV)

Perguntaste-me se eu tinha certeza de que era mesmo isso que queria. Sinto, de verdade, que desta vez é diferente. A minha casa e a minha cama já se tornaram grandes demais para uma só pessoa. Sem ti aqui, a casa fica silenciosa demais. Quando, da outra vez, te pedi para ir embora sentia-me sufocada. Naquela altura as coisas não foram pensadas e aconteceram rápido demais. Agora é diferente. Não sei explicar porque é que é diferente, mas sinto, sei, que é. O que sentimos um pelo outro está mais amadurecido, mais forte. Não posso prometer-te que vou ficar contigo até ao fim da vida. Nem tu podes prometer-me que vais ficar comigo para sempre. A única coisa que podemos fazer é lutar para ficarmos juntos sempre mais um dia, e quem sabe assim, conseguirmos chegar juntos ao fim da vida. É claro que eu adorava que o que vimos hoje enquanto passeávamos no jardim acontecesse connosco. É claro que eu adorava que quando fossemos velhinhos como aquele casal andássemos assim, de mãos dadas e cheios de amor um pelo outro reflectido nos nossos olhos. Só que não te posso prometer que assim será. Apenas posso prometer-te que darei o melhor de mim para que assim seja. Percebo o teu receio. Já te pedi que saísses da minha casa e da minha vida uma vez. É com os erros que se aprende. E aquela separação fez-me perceber que é contigo ao meu lado, na minha casa, de verdade dentro do meu mundo, que posso ser feliz.
Quero que penses bem. Sei que depois do que aconteceu com a tua Avó Madalena te agarraste ainda mais ao que sentimos um pelo outro, como se eu me fosse embora outra vez. Mas não quero que seja esse o motivo que te leve a aceitar o que te proponho. Quero que venhas viver cá para casa outra vez, sim. Pensei muito nisso. É o que quero, porque o que sinto por ti é maior do que alguma vez julguei ser capaz de sentir. Não vou pressionar-te para que tomes uma decisão. Sabes bem que seria incapaz de o fazer. Só te peço que penses com carinho no que te proponho.
Fecho os olhos e tento serenar a mente. Estou agitada, ansiosa e cheia de medo. Sim, também eu tenho medo. Mas não vou deixar que ele me tolde os sentidos. Vou saber esperar por ti, pelas tuas respostas, pelas tuas seguranças, pela tua chegada. Vou ser paciente. A decisão é muito importante e vai provocar novas alterações nas nossas vidas, mais desta vez do que da outra.
A inauguração do teu restaurante está quase a chegar. É já no próximo fim-de-semana. Sei que essa é mais uma das tuas grandes preocupações. Está tudo pronto, mas sei que estás mais nervoso do que uma criança que vai pela primeira vez à escola. Talvez tenha escolhido o momento menos próprio para te pedir que tomasses uma decisão destas, mas sei que se não o tivesse feito agora iria acabar por perder a coragem. E acredita que se foi difícil arranjar coragem para te dizer tudo aquilo, ainda mais difícil foi aguentar os segundos que se seguiram. O teu semblante carregado, sério e impenetrável fez-me tremer da cabeça aos pés. Acho que naquele momento senti medo como já não sentia há muito tempo. “Sabes aquilo que me estás a perguntar? Tens certeza de que é isso mesmo que queres Marta? Não podes voltar a fazer-me entrar no teu mundo para no momento seguinte me mandares embora outra vez!”. Gelei! Tinhas todas as razões do mundo para me falar daquela maneira. Mas, apesar de ter consciência disso, não consegui deixar de me sentir magoada e triste. Disse-te que sim, que sabia bem o que queria, que desta vez era diferente. E esperei que acreditasses em mim e nas minhas verdades. Não fiz nem posso fazer-te juras de amor eterno. Conheces-me bem demais para saberes que sou incapaz de o fazer. Apenas posso estender-te a mão, trazer-te para perto de mim, aninhar-me em ti, tentar conquistar-te um pouco mais a cada dia que passa e deixar-me amar por ti. Sim, porque já não tenho medo que me ames...
Olho constantemente para o telemóvel e para o telefone que insistem em não tocar. Aguardo notícias tuas, mas parece que ainda não é hoje que me vais dar uma resposta. O tempo está a passar e eu começo a ficar impaciente. “Tens de aprender a saber esperar Marta!”, dizes-me tu tantas vezes. Só que eu não sei esperar, e com tanta espera já estou a desesperar. Desta vez vou ser forte e conseguir. Vou mostrar-te que sou capaz de esperar por uma decisão. O ditado diz que “Quem espera sempre alcança”, e eu quero acreditar que assim seja. Mas começo a sentir-me muito pequenina nesta casa.”

quarta-feira, outubro 25, 2006

Encontro com o passado

“A vida, é para ser vivida. Mas se não for, é mais segura...”

Alexandre O’neill

Andei a tarde inteira a pensar nesta frase. Vi, mais uma vez, o filme destes últimos três anos. E, pela primeira vez, senti uma paz que julgava não existir.

Fazia pouco tempo que não olhava o passado nos olhos, mas já fazia algum que não lhe falava. Da última vez olhou-me com um tão ar sério e impenetrável que percebi que já não o conhecia. Aquele era ele, o meu passado, e eu era apenas uma estranha. Confesso que na altura mexeu comigo, fez-me pensar e chegou mesmo a deixar-me triste. Mas hoje, como por magia, foi diferente. E a paz tomou conta de mim.
Em conversa com uma amiga falei-lhe do meu encontro com o passado, dos sorrisos impessoais e das palavras cordiais e educadas. Como não poderia deixar de ser ela fez os comentários de que eu estava à espera. Já os ouvi tantas vezes que fui capaz de antecipar cada palavra. Mas não respondi como costumava responder. Sorri-lhe e limitei-me a dizer: “A vida acontece e muda, e nós mudamos com ela!”.
Agora, aqui sentada a escrever, recordo o momento e percebo o seu verdadeiro significado. Hoje tive a certeza absoluta, daquelas que raramente tenho, de que, desta vez, acabou definitivamente. Lembro que olhei para ele e o achei com um ar mais carregado, mais velho, mais cansado. Há dois meses, quando nos encontramos por acaso e tivemos aquela conversa, não me lembro de o ter visto desta maneira.
Nunca pensei que depois de ter gostado tanto dele seria capaz de o olhar e não sentir nada, nem sequer um frio na barriga. O tempo das borboletas no estômago já se perdeu há muito, e as mãos já não ficam frias nem o coração dispara quando o vejo ao longe.
Já passaram dois anos desde que o sonho se quebrou e eu me fechei a sentir de verdade. Hoje percebi que tenho de deixar a vida acontecer. Não posso continuar, eternamente, a mandar embora quem quer chegar a mim. Vai ser difícil, eu sei, mas estou cansada desta vida segura e sem grandes riscos. Estou cansada da minha racionalidade. Como diria a Vi: “Antes de deixares alguém entrar já estás a arranjar motivos para mandar essa pessoa embora.”. Ela tem razão, eu sei que tem.

“A vida, é para ser vivida. Mas se não for, é mais segura...”

E eu quero viver...

terça-feira, outubro 24, 2006

"Escolhas" (III)

“Estava a ver que este dia nunca mais chegava ao fim. Parece que tudo resolveu acontecer hoje. Mas, no meio de tanta coisa triste, surgiu uma boa notícia. Sei que também ficaste feliz, apesar de tudo. É em dias como estes que recordo uma frase que uma amiga minha costumava dizer muito: “Quando uma porta se fecha há sempre uma janela que se abre.”.
Não queria acreditar quando me ligaste e contaste o que tinha acontecido. Sei o quanto amavas a tua Avó. A Avó Madalena que me adoptou como neta no dia em que me conheceu. Ainda hoje me lembro das palavras dela, naquela chuvosa tarde de Janeiro “Vou ter bisnetos lindos!”. Recordo-me de ter ficado um pouco corada. Aquela senhora de 83 anos a dizer-me uma coisa daquelas deixou-me tímida. Quando te pedi que saísses da minha vida ela ficou triste, mas disse-me que sabia que iríamos ficar juntos. Não sei se ela tinha razão, ou não, mas pelo menos estamos a tentar que isso seja realidade. Mas hoje custou-me muito sentir a dor na tua voz, vê-la nos teus olhos. Nunca pensei ver-te chorar nos meus braços daquela maneira. Sei que custa, que dói, que não é justo. Senti-me impotente. A única coisa que pude fazer foi abraçar-te e fazer-te sentir que não estavas sozinho. “Ainda bem que estás comigo Marta!”.
Agora, aqui sentada na minha cama, percebo que não fazia sentido não estar contigo. O jantar de sexta-feira correu muito bem. Mais uma vez surpreendeste-me. Muitas haviam sido as vezes em que me tinhas falado do teu sonho, mas outras tantas também tinham sido aquelas em que afirmavas a tua falta de coragem para o fazer. “Largar o consultório para me dedicar a um restaurante é loucura, mas é aquilo que eu adorava fazer.”, dizias tantas vezes. Sempre te dei força, mas faltava-te qualquer coisa. Acho que no fundo procuravas encontrar uma forma de conciliar as duas coisas. “Percebi que tinha mesmo de o fazer quando te perdi! Não podia arriscar deixar escapar outro sonho, como aconteceu contigo!”, disseste com os olhos presos à Lua reflectida no mar. E foi naquele momento que percebi que talvez não fosse tarde para nós. Senti a tua mão na minha e prendi os meus olhos nos teus. Esses olhos cor de mel, tão doces como sempre, mais doces do que nunca. Senti a brisa marinha no rosto e deixei que a vida acontecesse ali, naquele instante decisivo. E hoje, quase uma semana depois, percebi que ela tinha mesmo acontecido. Foi para mim que correste quando a vida te feriu e arrancou uma parte de ti. Embalei-te nos meus braços e fiz-te sentir seguro. Era um menino pequenino. O mesmo menino pequenino que se sentava ao colo da Avó Madalena enquanto ela lhe contava histórias. Mas a Avó Madalena já não estava ali, e o menino estava perdido. Encontraste refúgio nos meus braços e isso aproximou-nos ainda mais. Talvez a Avó Madalena tivesse razão. Talvez fiquemos mesmo juntos. Quem sabe? Mas depois de tudo o que aconteceu é isso que mais desejo. A ver vamos se sou capaz de não me sentir de novo presa e sufocada pelos teus sentimentos. Acredita que não quero que isso volte a acontecer.
Mas no meio da tristeza aconteceu uma coisa boa: finalmente o Francisco e a Eduarda vão ter um bebé. O Martim vem aí. Sim, porque a Eduarda diz que tem a certeza de que vai ser um menino!
Sei que ficaste feliz, apesar da tristeza que te tomou a alma. Um bebé vai fazer-nos bem a todos. Vai ser a lufada de ar fresco de que todos precisamos para voltar a sorrir.”

domingo, outubro 22, 2006


Depois de ter aquecido as mãos na chávena, deixo que o chá me aqueça o corpo numa falsa sensação de conforto da alma. Lá fora o vento e a chuva fustigam as janelas e o frio já começa a fazer-se sentir com alguma intensidade. Tento arrumar a cabeça da maneira mais ordeira possível, mas parece que estou perante uma tarefa hercúlea.
Deixo o aroma adocicado do chá envolver-me e inebriar-me os sentidos. A música suave que escuto embala-me e, a pouco e pouco, sinto a minha mente esvaziar-se.
Amanhã é outro dia. E espero que o tempo esteja melhor. Porque esta chuva e este vento, desta vez, deixaram-me triste, o que não é nada habitual.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Como um bebé que aprende a andar piso o chão com força, ainda cambaleando um pouco, ainda com a sensação de que, de um momento para o outro, ele pode fugir-me debaixo dos pés. Parece que o chão começa, a cada dia que passa, a tornar-se mais firme e menos inseguro. Se assim é, ou não, só saberei com o passar do tempo. São as quedas que nos ensinam a andar a andar... E sei bem disso. Ainda assim, tenho medo...

terça-feira, outubro 17, 2006

"Escolhas" (II)

“Quando ouvi o meu nome no meio da multidão nem queria acreditar. “Marta!”. Senti o chão fugir-me. Não precisei voltar-me e olhar para trás para ter a certeza de que eras tu. A tua voz é inconfundível. E o modo como meigo e doce como sempre pronunciaste o meu nome continua intacto. “Olá Afonso! Tudo bem?”, perguntei-te sem saber muito bem o que dizer.
Já não te via há tanto tempo. Sem que eu me desse conta, passaram-se quase seis meses desde aquela noite em que te pedi que saísses da minha casa e, consequentemente, da minha vida. E ontem, no fim de um dia que não poderia ter corrido pior, voltei a encontrar-te e a ver-te sorrir para mim. Perguntaste-me se tinha tempo para um café e, sem pensar duas vezes, disse que sim. As palavras fluíram como a água que brota de uma nascente. Era como se nada daquilo tivesse acontecido. Percebi e tive medo. Dei comigo a pensar no que poderia ter acontecido nestes seis meses de distância. E de um modo quase infantil remexi-me na cadeira, e coloquei a mão e posição “pensativa” como gostavas de lhe chamar. Dizias que sempre que estava a pensar colocava a mão naquela posição. Foi involuntário, mas percebeste. “Pergunta lá! Há qualquer coisa que queres saber, não há?”, disseste com uma naturalidade assustadora. Ainda me conheces tão bem. Não perguntei, é óbvio que não perguntei. Que direito tinha eu de te perguntar o que quer que fosse? Afinal fui eu quem te pediu para saíres.
A conversa continuou e, a pouco e pouco, senti-me mergulhar nos teus olhos cor de mel. Quando me dei conta já tinham passado quase duas horas e eu tinha de ir embora. Ainda tinha de ir a casa tomar banho e trocar de roupa, e não podia atrasar-me para o jantar de aniversário do Francisco. “Então, até logo!”, disseste com um sorriso nos lábios. Como é que eu me podia ter esquecido. Tu és o melhor amigo do meu irmão. Era mais do que certo que estarias presente no seu jantar de aniversário. “Até logo!”, respondi-te de fugida, e virei costas para vir embora.
Quando cheguei a casa sentia-me cansada. Pensava na noite que se avizinhava, e que julgava poder ser menos boa. Tomei um banho quente, quase a escaldar. Como se a água quase a ferver fosse capaz de fazer com que eu deixasse de pensar em ti, naquelas quase duas horas em que me perdi nos teus olhos e no teu sorriso. Saí do banho e olhei para a roupa que de manhã tinha escolhido para vestir à noite. Achei que naõ devia vestir aquilo. Troquei de roupa inúmeras vezes, até que me decidi. Estava simples e discreta. Não queria dar nas vistas.
Ao chegar a casa do Francisco vi que o único lugar de estacionamento vago era mesmo ao lado do teu carro. Estacionei e toquei à campainha. A Eduarda abriu a porta com um sorriso de orelha a orelha e sem sequer me dar tempo para dizer olá encarregou-se de dizer-me que já lá estavas. Entrei e os meus olhos procuram imediatamente os teus. Sorriste-me, e senti-me corar. Ficamos sentados em lados opostos da mesa. Muitas foram as vezes que senti os teus olhos pousados em mim. Muitas foram as vezes que, furtivamente, procurei o teu rosto, o teu sorriso, o teu olhar. Não sabia se devia continuar a procurar-te entre tanta gente que ali estava, ou se havia de fugir. Não sabia o que sentir.
Como tenho andado cheia de trabalho dei a desculpa de estar cansada para me vir embora mais cedo. Quando ia a sair vi-te pegar no casaco e despedires-te do Francisco e da Eduarda. Saí sem esperar por ti. Quando estava quase a chegar ao carro senti o teu passo apressado e parei. Olhei para trás e o mundo quase parou. Não deixei que pronunciasses uma só palavra e, num impulso, beijei-te. Quando percebi o que estava a fazer tentei parar, mas o meu corpo não obedecia à minha mente, e aquele abraço tornou-se mais apertado. O abraço foi começando a perder força e afastamo-nos. Acompanhaste-me até ao carro, até perceberes que estava mesmo ao lado do teu. Não me despedi. Entrei no carro e arranquei sem sequer olhar para trás.
Ao chegar a casa reparei que a luz do atendedor de chamadas piscava. Senti que era a tua voz que ia escutar na gravação e ouvi: “Não voltes a fugir de mim, Marta! Hoje percebi que ainda és muito importante para mim. E sinto que percebeste que também sou muito importante para ti. Não nos vamos perder outra vez, por favor. Dorme bem. Beijos!”. Escutar as tuas palavras fez rolar uma lágrima dos meus olhos. Fiquei sem saber o que fazer. Pensei em ligar-te naquele momento, mas senti que já chegava de impulsos naquela noite.
Deitei-me e demorei a adormecer. Não me saías do pensamento. Talvez até tenha sonhado contigo. Não sei, não me recordo.
O dia hoje foi alucinante. À hora do almoço recebi uma chamada tua: “Queres jantar logo à noite?”. “Quero!”, respondi-te de imediato. “Passo em tua casa às 21h para te ir buscar. Quero mostrar-te um lugar novo. Até logo. Beijos!”. E assim ficamos combinados.
Já são quase 21hs e deves estar mesmo a chegar.”

segunda-feira, outubro 16, 2006

Doce saudade

Em conversa com uma amiga, tecemos umas "considerações" interessantes relativamente aos lugares onde já fomos felizes...
Os lugares onde fomos felizes tendem a deixar-nos uma doce saudade quando ficamos algum tempo longe deles. São lugares que fazem parte de nós, que ajudaram, através dos momentos das nossas vidas que testemunharam, a fazer de nós aquilo que somos. Mas nesses lugares, por vezes, fica apenas isso, a beleza e a memória da felicidade que neles experimentamos. E nem sempre o regresso nos faz sentir como esperávamos. Como canta o Rui Veloso “Nunca voltes ao lugar/Onde já foste feliz/Por muito que o coração diga/Não faças o que ele diz”! E esta música tem a sua razão de ser. Voltarmos aos lugares onde fomos felizes só faz sentido se for para, de alguma maneira, perpetuar essa felicidade. Se for só para recordar, então é melhor deixarmo-nos estar quietinhos com a doce saudade que temos dentro de nós. Porque voltar para, apenas, recordar, pode deixar-nos um sabor amargo na boca.
É curioso que, quando a saudade nos aperta no peito, tendemos a não pensar nestas coisas e só queremos deixar de a sentir. Mas quando alguém nos fala dessa saudade que sente, apressamo-nos a desfiar o rol de recomendações que já sabemos de cor. Como me disse um amigo há uns tempos atrás: "Não tens saudades daquele lugar. Tens é saudades do tempo que passaste lá!" E na altura ele tinha razão!!!

quinta-feira, outubro 12, 2006

“O silêncio é a razão
De prever o que aí vem, ou não.
Em contas de mais ou menos
Não somos iguais.”

(Susana Félix)


A vontade de mandar tudo para o espaço está mais controlada, pelo menos por enquanto. Depois do impacto do confronto inicial, as coisas começam, ainda que num ritmo lento, a acalmar.
Hoje, logo pela manhã, ouvi esta música. O resto da música nada tem a ver com a situação, mas esta estrofe reflecte bem o momento.
A letra é bem clara – “Não somos iguais” – e talvez seja por isso que algumas coisas me atemorizam... Os próximos tempos serão decisivos...

terça-feira, outubro 10, 2006

"Escolhas"(I)

Nota prévia: O "Escolhas" é uma estória que comecei a escrever noutro lugar e à qual decidi, agora, dar continuação. Vou republicar aqui as três primeiras partes, anteriormente publicadas no meu antigo blog, para depois continuar a contar a história da "Marta" e do "Afonso". Espero que gostem.


“Ainda me recordo da primeira vez que nos vimos… Não foi nada romântico… Ficaste arreliadíssimo por eu ter entornado café por cima de ti, no meio da galeria…
Eras amigo do meu irmão Francisco, mas nunca te tinha conhecido… Quando ele nos apresentou fiquei expectante quanto à tua reacção… Estavas tão furioso que nem te apercebeste que eu era eu… “Afonso, esta é a Marta, a minha irmã mais nova!”… “Finalmente conheço a famosa Marta!”, disseste num primeiro momento para, no momento seguinte, fazeres cara de mau… “A menina é uma desastrada!”… Foi a minha vez de ficar furiosa com o tom arrogante e pretensioso com o qual proferiste tais palavras, e acabei por despejar o que restava de café, na minha chávena, por cima da tua gravata… Virei costas e saí…
Qual não foi o meu espanto quando, no dia seguinte, recebo em casa uma caixa de “Blue Rose”, nada mais nada menos que os meus bombons favoritos, acompanhados de um cartão que apenas dizia “Desculpe. Afonso”… “O Francisco”, pensei eu… Liguei-lhe e ele confirmou-me que lhe tinhas perguntado como te poderias desculpar pelo modo como tinhas falado comigo… Desliguei o telefone e fiquei sentada em cima da cama a olhar para a caixa e para o cartão… Qual não foi o meu espanto quando reparei que havia algo mais escrito no cartão – o teu número de telemóvel… Sorri… Coloquei o cartão em cima da mesa de cabeceira e fui tomar banho… Saí para o trabalho e nessa noite fui jantar a casa dos meus pais… O Francisco também lá estava… Contei-lhe sobre o conteúdo do cartão e ele riu-se… “Telefona-lhe!”… Prático como sempre…
Só voltei a olhar para o tal cartão dois dias depois… Liguei-te… Demoraste uns segundos a associar o nome à pessoa, mas a tua reacção foi engraçada: “Suponho que estou perdoado!”… Combinamos um café… Depois outro, e outro, e ainda outro…
Ao fim de três meses éramos, oficialmente, namorados… Aconteceu tudo muito rápido e passado pouco tempo vieste morar cá para casa… Acho que no dia em que te mudaste teve início o fim… Foi uma revolução na minha vida… De um momento para o outro tinha outra pessoa dentro da minha casa, a partilhar o meu espaço, a minha vida…No início foi muito bom… Mas eu não estava preparada, e tu nunca percebeste isso… E o desfecho foi o inevitável, pelo menos para mim…
Hoje, de cada vez que olho para as estantes tenho a falsa ilusão de que ainda estás aqui… Os teus livros, entre os meus, dão a sensação de uma presença irreal… Não levaste nada que te pudesse fazer recordar-me… E assim ficaram os livros que gostavas de ler-me, como se eu fosse uma menina pequenina, e os CD’s que compramos juntos, mais os que te ofereci e, ainda, os que me ensinaste a gostar… Livros que não voltei a folhear… CD’s que não voltaram a tocar… E as cartas… Aquelas que me escrevias quando me sentias mais distante e que julgavas que me levariam, de novo, para perto de ti… Nunca percebeste que algo tinha mudado… E por isso não foste capaz de acreditar que eu não tivesse outra pessoa quando te pedi para sair… Não conseguiste aceitar que eu quisesse, simplesmente, ficar sozinha… Não vês que não precisava de ter alguém para não querer ficar contigo??? Não conseguiste perceber que eu é que tinha mudado… “Os sentimentos mudam!”, disse-te na esperança de te fazer entender… “Gosto muito de ti, mas preciso de estar sozinha!”… Mas foram só palavras vãs… Não queria magoar-te, mas não podia continuar a sentir-me assim… “Não passas de uma menina mimada que quis brincar aos crescidos!”, disseste antes de saíres batendo com a porta… Foste embora e eu fiquei aqui… Sozinha, como queria ficar…
Sei que tens falado com o Francisco… Ele, até hoje, não conseguiu entender a minha decisão… Continua a dizer-me que cometi o maior erro da minha vida… Não quero pensar se ele tem razão, ou não… Mas na altura não poderia ter sido de outra maneira…
Um dia destes telefono-te… Há coisas que tenho de te dizer… Agora que já estás convencido de que não há outra pessoa na minha vida, pode ser que seja mais fácil para ti entenderes as minhas razões… O problema não eras tu… O problema era eu… Até porque ainda gosto muito de ti…”

sexta-feira, outubro 06, 2006

"Marley & Eu"




“Entrou nas nossas vidas exactamente na altura em que nós tentávamos perceber no que elas se iriam tornar. Juntou-se a nós enquanto nos debatíamos com aquilo que todos os casais acabam por se confrontar, o processo por vezes doloroso de forjar um futuro comum a partir de dois passados distintos. Tornou-se parte do nosso tecido comum, um fio intrincado e inseparável do entrançado que nós formávamos. Tal como nós ajudamos a fazer dele o animal doméstico em que viria a tornar-se, também ele ajudou a moldar-nos – como casal, como pais, como amantes de animais, como adultos. Apesar de tudo, de todas as desilusões e expectativas não correspondidas, Marley tinha-nos dado uma prenda, ao mesmo tempo grátis e sem preço. Ensinou-nos a arte do amor absoluto. Como dá-lo e como recebê-lo. Quando assim é, todas as outras coisas tendem a bater certo.”


"Marley & Eu"- A vida e o amor do pior cão do mundo,
John Gorgan


Enquanto lia este livro fui acometida de diversas emoções. Algumas vezes desenharam-se sorrisos no meu rosto, outras libertei umas boas gargalhadas, daquelas de fazer quem me rodeava olhar para mim com ar desconfiado, outras ainda fui incapaz de controlar umas quantas lágrimas rebeldes que insistiram em fugir dos meus olhos.
Um livro cheio de amor e emoção. Um livro escrito pelo coração de alguém que amou o seu cão de um modo incondicional. Aconselho-o a todos os que gostam de ler e a todos os que gostam de animais.

Demorei mais tempo do que é costume, em mim, a ler um livro. Mas valeu a pena cada minuto empreendido na leitura deste. “Marley & Eu” foi, sem dúvida alguma, um dos melhores presentes de aniversário que recebi este ano!

Muito obrigada! ;-)

segunda-feira, outubro 02, 2006

Há dias assim...


Há dias, como o de hoje, em que o silêncio e o sossego são mesmo os meus melhores amigos. Tudo o que quero é ficar calada e quieta no meu canto, sem que ninguém esteja constantemente a perguntar-me o que se passa, a organizar a mente ou, simplesmente, sem pensar em nada. Nestes dias, por vezes, dou folga à razão e alieno-me do mundo. E então, ou fecho-me no meu quarto e disfruto do meu tão prezado pequeno mundo, ou sento-me ao volante, abro os vidros (quando não chove, é claro), ligo o rádio e vou até à praia respirar a maresia e escutar o barulho das ondes a desfazerem-se na areia.
Hoje opto pelo silêncio do meu quarto. Estou num daqueles dias em que só me apetece esconder-me do mundo e aninhar-me num abraço fechado, daqueles que nos confortam a alma e nos fazem sentir que vai ficar tudo bem.
O céu cinzento e carregado, e a chuva que lá fora fustiga as janelas, fazem-me desejar ainda mais o silêncio e a quietude do meu quarto.
Não, não existe qualquer razão relevante para estar nesta neura. Simplesmente, há dias assim...

sexta-feira, setembro 29, 2006

Conversas e Pensamentos

Deixo-me invadir pela sensação de paz dos últimos dias. A conversa de hoje de manhã fez-me muito bem. Já não nos víamos há quase dois meses, e as conversas telefónicas e pela Internet não chegavam. A fase má que atravessava passou, finalmente, e consegui ver no seu rosto um sorriso sincero e verdadeiramente feliz. Sempre acreditei, e sempre lhe disse, que um sentimento como o que os une só poderia triunfar. E fiquei muito feliz por ver a minha amiga tão bem.
Mais uma vez leu-me a alma e percebeu-me os silêncios. E quando foi cada uma para seu lado senti-me mais leve e serena. Sorri sozinha, de mim para mim.
A vida tem o condão de nos tirar umas coisas e compensar com outras, fazendo o mesmo com as pessoas. Há aquelas que saem das nossas vidas deixando espaço para que outras entrem. Enquanto me dirigia para o escritório pensava nisto mesmo. Pensei nas pessoas que deixando de ter um papel principal nas nossas vidas insistem em não deixar-nos ir, mantendo-nos prisioneiros do tempo que passou. Pensei nas pessoas que, embora saindo das nossas vidas, insistimos em não deixar sair. Pensei nas pessoas que, neste entra e sai indefinido e interminável, ficam à porta das nossas vidas e acabam por desistir de tentar entrar. Uma vez, uma outra amiga, mais velha e bem mais sábia do que eu, disse-me que ao não deixar ninguém entrar na minha vida estava a proteger-me das pessoas más e, ao mesmo tempo, a não permitir que as boas se chegassem a mim. A razão contida nas palavras dessa amiga sempre me assustou. Mas hoje, depois da conversa com a Conchinha, aquelas palavras fizeram mais sentido do que nunca. Percebi que, finalmente, abri a porta deixando sair o que já não fazia sentido continuar aqui, e nem sequer me dei conta disso.
Ao chegar ao escritório o telemóvel deu sinal de mensagem. Ao lê-la deparei-me com palavras que me massajaram o coração: “Minha querida, gostei imenso do nosso cafezinho e adorei ver-te! Estás com óptimo aspecto!!! Espero que a vida te continue a fazer bem, tu mereces! ;) Beijo grande”.

Também adorei ver-te minha querida Conchinha. Gosto mesmo muito de ti!!!

quinta-feira, setembro 28, 2006

“O tempo endurece qualquer armadura
E às vezes custa arrancar
Muralhas erguidas à volta do peito
Que não deixam partir nem deixam chegar”
(M.V.)


Sei que fiz uma promessa. Só não sei como hei-de cumpri-la...

E a música ainda ecoa na minha mente...

domingo, setembro 24, 2006

Não são só os meus olhos

O dia amanheceu triste e a chuva não tardou em chegar. A correria de subir e descer as escadas para tentar colocar tudo, mais ou menos, no lugar fez com que não me desse conta do passar do tempo. E nisto o fim-de-semana passou a num instante. Foi cansativo sim, muito. Mas os resultados compensaram o cansaço, e os momentos de pausa foram bons.
No fim do dia sentia-me como o tempo: cinzenta e tristonha. Mas poucas palavras serviram para me fazer sorrir: “Mas tu tens uns olhos a cores. Acho que vês coisas boas na maioria das coisas.”. Sorri! Mas acredito mesmo no que lhe disse... Não são só os meus olhos!
Muito obrigada, minha querida! São palavras como estas que me abraçam a alma e me aquecem o coração.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Já cheira a Outono!


Já cheira a Outono. As ruas começam a ficar cobertas de folhas secas que estalam debaixo dos nossos pés. Daqui a pouco tempo começa a sentir-se pelas ruas o cheiro das castanhas assadas. Está quase na altura de tirar os casacos quentinhos do armário, de colocar os cachecóis e calçar as luvas de que tanto gosto. É no Outono que começam a colocar-se as luzes de Natal. As ruas das cidades vão ganhando novas cores e uma nova vida! As montras começam a deixar antever a época festiva que se aproxima a passos largos. O frio torna-se constante e a chuva começa a visitar-nos frequentemente. É nas tardes de Outono mais frias, em que a chuva fustiga as janelas, que mais gosto de ficar em casa, quentinha e quietinha, a ver chover.
Já cheira a Outono. E já vou pisando as folhas secas que começam a deixar as árvores desnudas.
Já cheira a Outono! E eu estou a adorar!

terça-feira, setembro 19, 2006

Palavras

Há dias em que o tempo parece não passar! Dias como hoje, em que vou inventando coisas para fazer ou para pensar, na esperança de que os ponteiros do relógio avancem rapidamente. O escritório está estranhamente calmo, e sinto falta da agitação que por aqui é uma constante.
Aproveito para colocar algumas ideias em ordem e reflectir sobre alguns acontecimentos recentes. Com a cabeça a fervilhar de ideias, tenho sido incapaz de escrever. As palavras parecem-me sempre tão pouco significativas para o tanto que quero deitar cá para fora. São as coisas novas que tenho aprendido no estágio; é o mundo do direito que agora sim começa a tomar forma real e me faz acreditar, a pouco e pouco, e depois dos receios “pré-estágio”, que fiz a escolha certa; são as sensações de paz e liberdade que me dominam enquanto conduzo; enfim, uma imensidão de realidades que queria ser capaz de transpor em palavras escritas, mas que não consigo.
Antes, quando as minhas palavras fluíam sem que eu, muitas vezes, me desse conta, era muito fácil escrever. E a minha escrita era partilha, entrega. Hoje, um pouco mais reservada e cautelosa no que respeita às palavras do que era então, escrever transformou-se num exercício de maior ponderação e reflexão. Ainda assim, escrever continua a ser a minha terapia de eleição. A maneira mais eficaz de colocar para fora tudo o que me mói por dentro, tudo o que não me deixa sossegar e , também, tudo o que me deixa feliz.
Às vezes, as palavras surgem do nada, fluindo no papel de modo simples e claro, outras ficam retidas dentro de mim, como se estivessem presas por alguma rede invisível que não lhes permite libertarem-se. Hoje as palavras tomaram alguma forma, mas não reflectem tudo o que queria escrever. Deve ser do tempo que teima em não passar. Escrevi e, ainda assim, mesmo perdida nas palavras, passou menos de uma hora.

(hora:16h46min)

quinta-feira, setembro 14, 2006

Iguais

De tão dissemelhantes que os nossos caminhos têm sido; de tão diversas que foram as nossas vivências; de tão diferentes que são as nossas maneiras de ser e de enfrentar a vida, acabámos por nos tornar iguais...
Sim, iguais, equitativos, análogos, idênticos, pares...
Não entende???
Um dia destes, meu querido, explico-lhe com muita calma e paciência. E sei que vai entender-me. Porque, por mais que diga que não, somos iguais!

quarta-feira, setembro 13, 2006

Enquanto escutava o barulho da chuva que caía lá fora, fui reorganizando as ideias. É tudo tão novo, que nem sei bem como me sinto. Pensava que tudo ia ser de outra maneira, mais difícil, menos simples de arrumar. Mas os dias que têm passado mostraram-me que afinal não é bem assim. É só uma questão de saber dar ao tempo o tempo a que ele tem direito...

domingo, setembro 10, 2006

"Não Passou"

"Não Passou"

“Passou?
Minúsculas eternidades
deglutidas por mínimos relógios
ressoam na mente cavernosa.
Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.
A mão – a tua mão, nossas mãos –
rugosas, têm o antigo calor
de quando éramos vivos. Éramos?

Hoje somos mais vivos do que nunca.
Mentira, estarmos sós.
Nada, que eu sinta, passa realmente.
É tudo ilusão de ter passado.”

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

A verdade contida nas palavras que me foram ditas assusta-me. Por vezes tomamos decisões, e escolhemos caminhos, racionalizando tudo, até mesmo aquilo que seria impensável racionalizar. Será mesmo esse o caminho mais correcto???
“Sabes que não passou, e que só vai passar no dia em que resolveres sair do teu casúlo...”. Será que ela está certa? Será que sou mesmo assim, como ela me adjectivou? Tenho receio de que aquelas palavras tenham mais razão do que seria esperado...

sexta-feira, setembro 01, 2006

Novo caminho


A grande mudança está mais perto do que nunca. Quis muito. Desejei-o mais do que tudo e cheguei a deixar de lado outras coisas igualmente importantes. Agora que está quase a começar, o medo vai-se apoderando de mim: e se eu não estiver à altura do desafio?
Tenho medo, sim. Mas vou de peito aberto, com a certeza de que darei o melhor de mim, como dou sempre em relação a tudo aquilo que gosto. É tempo de erguer a cabeça e não deixar que os obstáculos que encontrarei no caminho me façam desistir.
Cheguei aqui porque sempre tive a fidelidade a mim mesma como princípio norteador. A meio do caminho senti-me perdida e com vontade de voltar a fugir. Não o fiz, e hoje tenho certeza de que se o tivesse feito me arrependeria para o resto da vida. Aprendi que a melhor solução para algumas situações é a pior para outras.
Já só faltam três dias para o início desta nova aventura e, apesar dos medos, estou muito feliz!!!

domingo, agosto 27, 2006


Com o vento a despentear-me os cabelos e a gelar-me a pele, aqui senti-me no topo do mundo! Este nosso país tem paisagens mesmo muito bonitas!

sexta-feira, agosto 25, 2006

"Para cá da superfície"

"Trocaram os sonhos e as ilusões. Foram um, a dois, no meio da multidão que os submergia num marasmo de solidão. Gritaram bem alto o “Não” que os fez vir à superfície e que fez com que fossem capazes de respirar fundo, novamente.
Sentia, antes de o encontrar, que tal, um dia, poderia acontecer. Mas as tentativas já haviam sido tantas que a esperança de deixar de estar mergulhada naquela realidade já quase se tinha desvanecido. Encontrá-lo, inesperadamente, no meio de tanta gente que nem coragem tinha para levantar os olhos do chão, fê-la sentir que talvez existisse mesmo esse impulso sobre-humano que a levaria a ver o Sol e sentir o seu calor na pele, de novo.
Antes de ela aparecer julgava que estava condenado a ficar prisioneiro da sua própria escolha. Anos antes tinha decidido fechar-se ao mundo e tornar-se num estranho entre os estranho que o rodeavam, mais um daqueles cobardes que andavam de cabeça baixa como se carregassem um peso demasiado grande nas costas para caminharem direitos e de olhos postos no horizonte. Encontrá-la, por um daqueles acasos que acontecem uma vez na vida, fê-lo perceber que o mundo ainda podia ser um lugar feliz e que o destino era muito mais do que aquilo que um dia tinha vivido."

(Continua)
E por aqui já toca "O Lume", música que eu adoro, que escolhi para dar nome a este espaço, e que me faz lembrar de alguém muito especial: a minha Maninha querida!
Beijo enorme para ti Maninha, e para todos os que aqui têm vindo espiar!
P.S.- Agora já não podes dizer que não escrevo para ti, Mana ;-)

quarta-feira, agosto 23, 2006

Porto Seguro


Atravessar a Ponte da Arrábida e ver o casario desenhar-se no horizonte. Olhar mais além e ver os Clérigos que começam a fazer-se notar. Respirar fundo e desejar que o tempo passe rápido para poder voltar a pisar as ruas da cidade, do meu Porto. Sinto a saudade invadir-me o peito e a ansiedade de chegar é mais do que muita. Quero voltar a passear naquelas ruas de que tanto gosto. Descer Sá da Bandeira a pé e chegar à Praça da Liberdade. Olhar novamente o imponente edifício da Câmara Municipal sentada confortavelmente no Black Coffe a deliciar-me com a minha italiana curtinha e amarga, como tanto gosto. Subir a rua até aos Clérigos, seguir até à Cadeia da Relação e parar em frente a ela a imaginar o amor de Camilo Castelo Branco e de Ana Plácido, que os levou ao encarceramento naquele lugar. Quero voltar a entrar no Teatro do Campo Alegre para ver uma peça de teatro. Calcorrear a Ribeira e todas as ruas que a ela vão dar, e no fim sentar-me nas esplanadas do Cubo a beber um chocolate quente a contemplar o Douro que testemunhou tantos momentos da minha vida.
Tenho saudades de voltar a respirar aquela cidade. Vontade de redescobrir aqueles lugares, tantos anos depois. Vontade de reinventar cada rua e cada recanto. Vontade de voltar a conhecer o lugar onde já fui feliz.
Tenho saudades. Muitas. Quero voltar ao meu Porto seguro. Mas ainda não é desta vez...

terça-feira, agosto 22, 2006

Início

Às vezes é necessário começar do zero, soltar as amarras e zarpar até onde a vida nos quiser levar. Que “O Lume” arda sempre para aquecer o meu coração e o de todos aqueles que por aqui passarem para me ler.
Beijo grande,
Ana

"O Lume"

“Vai caminhando desamarrado
Dos nós e laços que o mundo faz
Vai abraçando desenleado
De outros abraços que a vida dá

Vai-te encontrando na água e no lume
Na terra quente até perder
O medo, o medo levanta muros
E ergue bandeiras pra nos deter

Não percas tempo,
O tempo corre
Só quando dói é devagar
E dá-te ao vento
Como um veleiro
Solto no mais alto mar

Liberta o grito que trazes dentro
E a coragem e o amor
Mesmo que seja só um momento
Mesmo que traga alguma dor
Só isso faz brilhar o lume
Que hás-de levar até ao fim
E esse lume já ninguém pode
Nunca apagar dentro de ti

Não percas tempo
O tempo corre
Só quando dói é devagar
E dá-te ao vento
Como um veleiro
Solto no mais alto mar”

(Mafalda Veiga)