terça-feira, março 11, 2008

Para ti… Porque sim…


““Mais uma noite em que me perco pelas ruas da cidade sem saber por onde ir.” , penso de mim para comigo mesma, numa tentativa vã de metaforizar o meu desnorteamento. Sinto-me perdida, é verdade, mas não é pelas ruas de Lisboa que me perco, é nos meandros dos meus sentimentos. Não sei que rumo seguir, então faço como em tantas outras noites. Entro no carro e saio à deriva, na esperança de encontrar o caminho certo por onde seguir, o rumo que não consigo escolher.

Enquanto conduzo o telemóvel toca com sinal de mensagem. Quando paro num semáforo encarnado leio-a. É do Bernardo e diz o seguinte: “Já reservei mesa para amanhã. Encontramo-nos às 21hs à porta da empresa? Deixas o carro aqui e vamos no meu, pode ser? Beijinhos e até amanhã”. Respiro fundo. É desta. Tenho de por os pontos “i’s” e definir o meu caminho de uma vez por todas, e desta não posso falhar.

Se recuar no tempo consigo definir o exacto momento em que me apaixonei por este homem. Era um dia frio e ventoso de Novembro. Foi buscar-me ao escritório para jantarmos antes da peça. Não conhecíamos restaurantes na zona do Teatro, e depois de estacionarmos o carro fomos pelas ruas em redor até encontrarmos um lugar que nos parecia razoavelmente bom. O restaurante estava quase vazio, o que nos agradou. Podíamos conversar à vontade e, como sempre, as palavras não eram um problema entre nós. Durante aquele jantar rendi-me, quase sem dar por isso, aos encantos escondidos daquele homem. Sempre muito educado e cavalheiro, o Bernardo é uma pessoa extremamente racional e ponderada, mas naquela noite mostrou-me algo que somado a tudo o que já me tinha mostrado fez com que me apaixonasse por ele. “Tu racionalizas e controlas tudo demais!”, disse-lhe eu uma noite, pouco tempo antes, quando regressávamos de um outro jantar. Sorriu e perguntou-me porque é que eu dizia aquilo. “Tu percebes bem o que quero dizer!”, respondi-lhe sem saber o que mais lhe responder. “Sim, percebo bem!”, disse-me com um sorriso maroto nos lábios. Ambos sabíamos do que estávamos a falar, mas nenhum dos dois o referiu. Apaixonei-me por este homem à mesa de um restaurante, e agora, a menos de 24hs do nosso próximo jantar, não sei o que fazer com ele e sei que corro o sério e real risco de o perder.
Passados breves instantes o sinal fica verde e arranco. O telemóvel volta a tocar. Atendo e do outro lado o Henrique dá-me um “Boa noite, Borboleta!”, muito doce. O Henrique é alguém que não sei definir. Conhecemo-nos há muito pouco tempo para percebermos se temos alguma coisa a ver um com o outro. Mantemos uma relação estritamente cordial, mas há qualquer coisa que mexe connosco. Sinto-me atraída por ele, e isso causa-me imensos problemas de consciência em relação ao Bernardo. Em abono da verdade, há que admitir que não tenho uma relação com o Bernardo e que a indecisão dele faz com que a vida aconteça. Ele tem consciência de que eu não vou ficar à espera o resto da vida. Mas a realidade é que quando estou com ele sinto que cheguei a “casa”, e isso não encontro com mais ninguém. Queremos as mesmas coisas, num tempo semelhante, apesar de sermos completamente diferentes. O que me liga a ele é algo que não consigo explicar. E o que me assusta é nunca ter sentido isto por ninguém. Já houve homens que amei muito, por quem teria sido capaz de ir ao fim do mundo. Mas o Bernardo é diferente. Não sei explicar, mas é. E é essa diferença que me faz ter medo daquela que amanhã pode tornar-se na nossa realidade.
Não estou apaixonada pelo Henrique. E tenho plena consciência disso. Se não me tivesse afastado tanto tempo do Bernardo, ainda por cima pelo motivo que foi, sei que jamais teria olhado duas vezes para o Henrique. Mas estava ali sozinha, decidida a seguir com a minha vida e esquecer o Bernardo e o Henrique surgiu do nada. O momento dele também não era muito bom, e acabamos por achar alguma piada um ao outro. Só que hoje olho para o Henrique e, apesar da atracção que sinto por ele, só consigo pensar no Bernardo e na conversa que temos para ter. É difícil gerir a situação e não sei muito bem o que vai sair daqui.
Às vezes sinto que estou a viver uma vida dupla, quando na realidade isso não acontece.
A verdade é simples, eu é que me sinto perdida. Estou apaixonada pelo Bernardo, sinto-me atraída pelo Henrique e não sei o que fazer com nenhum dos dois…”

1 comentário:

Anónimo disse...

Ao ler este texto fiquei surpreendido com o seu conteúdo... A frontalidade que dele resulta é abismal!

De qualquer modo, vais saber dar a volta...

Bjs