“Nada fazia prever o que aconteceu. Sinto-me devastada, como se um comboio me tivesse passado por cima. A inauguração do teu restaurante foi um sucesso. Não podias estar mais feliz. Confesso que quando vi o teu Pai entrar tremi. Ele sempre quis que seguisses as pisadas dele e, recordo-me, de me teres contado que quando decidiste tornar-te médico, ele te ter dito que seres médico era o maior orgulho que poderias dar-lhe. Sei que foi o medo de o desiludir que te fez adiar o desejo cozinhar. Mas sempre quiseste fazer da culinária a tua vida, e sei que foi necessária muita coragem para te dedicares a isso. E eu estava nas nuvens por poder partilhar aquela felicidade contigo. Mas depois... O “porquê” do que se seguiu ainda continua a fazer-me muito mal. Já passou quase um mês, mas ainda sinto como se tivesse sido ontem.
“Precisamos de conversar, Marta.”, disseste tu quando chegámos cá a casa naquela noite, e a expressão do teu rosto mudou radicalmente. Gelei. Mas nunca imaginei o teor da conversa que se seguiria. “Senta-te, por favor.”, pediste-me com cuidado. Sentei-me a medo, não estava a perceber nada. Parece que ainda estou a ouvir as tuas palavras, repetidas vezes sem conta, como se tivessem ficado gravadas no disco rígido das minhas lembranças. O teu tom de voz mais grave e pausado do que era costume fizeram-me ficar presa ao sofá. Não me lembro muito bem das palavras que saíram da tua boca, mas o essencial, a realidade para a qual me empurraste, entranhou-se em mim e ficou tatuado na minha alma. Aconteceu tudo tão depressa.
Nunca havia tido coragem para te perguntar como tinha sido a tua vida durante o tempo que passou desde que te pedi para ir embora até ao dia em que voltamos a encontrar-nos. Sempre achei que não tinha esse direito. Mas se tivesse perguntado talvez me tivesse poupado a esta realidade que me assombra e que me devastou como se um punhal me trespassasse o peito. A verdade é que nunca fui, verdadeiramente, traída. Não estávamos juntos por culpa minha e a vida tinha de continuar. Ainda assim não consigo deixar de me sentir traída, magoada, destruída. Afinal a “amiga” do André não era “amiga” dele. Afinal o filho que ela vai ter é teu e não dele. Afinal a vida pregou-nos uma partida que nos levou para longe de nós, mais uma vez, pela última vez. Disseste-me que não tinhas a certeza se o filho dela era mesmo teu, ou não e que querias confirmar a paternidade assim que a criança nascesse. Disseste que era comigo que querias ficar para o resto da vida, e que se realmente o filho fosse teu íamos saber adaptar-nos a essa nova realidade. Mas tudo não passaram de meras palavras. Não fui, nem sou, capaz de lidar com isso. A verdade é só uma: vais ter um filho com outra mulher. Todas as verdades envolventes e que consubstanciam a realidade em que isso aconteceu são, para mim, secundárias. Estou a ser intransigente? Estou a ser inflexível? Sim, se calhar estou mesmo. Até porque os teus argumentos são os mais válidos possíveis. Sim, é verdade que não estávamos juntos porque eu te tinha mandado embora e que tinhas de seguir com a tua vida. Mas não sou capaz.
Acabei por te voltar a pedir que saísses da minha vida. E ver-te sair pela porta outra vez fez-me sentir que o meu mundo tinha ficado mais triste e mais pequeno. Custou-me muito, mas sei que fiz a coisa certa. O teu lugar é ao lado do teu filho. Porque se fores mesmo o Pai daquela criança, como eu acredito que sejas, sei que nunca te irias perdoar por não acompanhar o seu desenvolvimento e o seu nascimento. Está a custar-me horrores. E custa-me mais ainda quando penso que esse filho deveria ser “o nosso filho”, e não o teu filho com outra mulher. Mas o destino resolveu que não seria assim.
E desta vez a vida tem mesmo de continuar. Digo-te, mais uma vez, “Adeus” na esperança de conseguir arrancar-te de mim. Mas está a ser tão difícil...”
Nota: Depois de duas semanas de interrupção, volto hoje a publicar a estória "Escolhas". A partir da próxima semana retomarei as publicações desta estória às terças.
“Precisamos de conversar, Marta.”, disseste tu quando chegámos cá a casa naquela noite, e a expressão do teu rosto mudou radicalmente. Gelei. Mas nunca imaginei o teor da conversa que se seguiria. “Senta-te, por favor.”, pediste-me com cuidado. Sentei-me a medo, não estava a perceber nada. Parece que ainda estou a ouvir as tuas palavras, repetidas vezes sem conta, como se tivessem ficado gravadas no disco rígido das minhas lembranças. O teu tom de voz mais grave e pausado do que era costume fizeram-me ficar presa ao sofá. Não me lembro muito bem das palavras que saíram da tua boca, mas o essencial, a realidade para a qual me empurraste, entranhou-se em mim e ficou tatuado na minha alma. Aconteceu tudo tão depressa.
Nunca havia tido coragem para te perguntar como tinha sido a tua vida durante o tempo que passou desde que te pedi para ir embora até ao dia em que voltamos a encontrar-nos. Sempre achei que não tinha esse direito. Mas se tivesse perguntado talvez me tivesse poupado a esta realidade que me assombra e que me devastou como se um punhal me trespassasse o peito. A verdade é que nunca fui, verdadeiramente, traída. Não estávamos juntos por culpa minha e a vida tinha de continuar. Ainda assim não consigo deixar de me sentir traída, magoada, destruída. Afinal a “amiga” do André não era “amiga” dele. Afinal o filho que ela vai ter é teu e não dele. Afinal a vida pregou-nos uma partida que nos levou para longe de nós, mais uma vez, pela última vez. Disseste-me que não tinhas a certeza se o filho dela era mesmo teu, ou não e que querias confirmar a paternidade assim que a criança nascesse. Disseste que era comigo que querias ficar para o resto da vida, e que se realmente o filho fosse teu íamos saber adaptar-nos a essa nova realidade. Mas tudo não passaram de meras palavras. Não fui, nem sou, capaz de lidar com isso. A verdade é só uma: vais ter um filho com outra mulher. Todas as verdades envolventes e que consubstanciam a realidade em que isso aconteceu são, para mim, secundárias. Estou a ser intransigente? Estou a ser inflexível? Sim, se calhar estou mesmo. Até porque os teus argumentos são os mais válidos possíveis. Sim, é verdade que não estávamos juntos porque eu te tinha mandado embora e que tinhas de seguir com a tua vida. Mas não sou capaz.
Acabei por te voltar a pedir que saísses da minha vida. E ver-te sair pela porta outra vez fez-me sentir que o meu mundo tinha ficado mais triste e mais pequeno. Custou-me muito, mas sei que fiz a coisa certa. O teu lugar é ao lado do teu filho. Porque se fores mesmo o Pai daquela criança, como eu acredito que sejas, sei que nunca te irias perdoar por não acompanhar o seu desenvolvimento e o seu nascimento. Está a custar-me horrores. E custa-me mais ainda quando penso que esse filho deveria ser “o nosso filho”, e não o teu filho com outra mulher. Mas o destino resolveu que não seria assim.
E desta vez a vida tem mesmo de continuar. Digo-te, mais uma vez, “Adeus” na esperança de conseguir arrancar-te de mim. Mas está a ser tão difícil...”
Nota: Depois de duas semanas de interrupção, volto hoje a publicar a estória "Escolhas". A partir da próxima semana retomarei as publicações desta estória às terças.
Sem comentários:
Enviar um comentário