Por vezes, a realidade e a ficção misturam-se e o resultado é surpreendente. Porque há realidades que têm de ser recordadas, e porque há histórias que merecem ser contadas, misturei a realidade e a ficção...
“Meu Querido,
Nunca encontrei as palavras certas para lhe dizer o que restou depois do fim. Mas ontem, ao relembrar um dos nossos momentos mágicos, percebi que não poderia adiar mais. E, por isso, resolvi escrever-lhe. O menino sabe que sempre privilegiei as palavras escritas. Embora sempre tenha adorado ouvir as ditas, aquelas que ficam tatuadas na memória com a entoação única do momento em que são proferidas. E guardo todas as suas num lugar muito especial, junto ao coração.
Sempre me disse que as coisas boas da vida deveriam ser vividas no momento, e que só ele era importante. O passado já estava arrumado lá atrás e a chegada do futuro era incerta. Deixei-me fascinar pela facilidade e leveza com que o menino vivia e encarava a vida. Ao seu lado tudo parecia fácil e possível. E fui-me deixando ir, como se fosse levada pela corrente do mar. Tal e qual criança imprudente, que não sabendo nadar se aventura no mar, apaixonei-me por si sem pensar duas vezes e fiz-me naufraga nos sentimentos que não consegui controlar. Naquela altura era ainda uma menina tonta que acreditava podia controlar tudo, sem saber que os sentimentos não se controlam. E eu não controlei. Mostrou-me sempre pouco e eu nunca soube pedir mais. Também nunca soube dar-lhe sem que pedisse. E sempre pediu. Queria saber e sentir sempre mais. Deixei o meu coração subir ao cadafalso e ser entregue a si. Depois disso não me recordo como tudo aconteceu. As situações precipitaram-se umas a seguir às outras e o destino que nos juntou encarregou-se de nos levar para longe de nós.
Quando penso no que fomos um dia, recordo-me sempre daquele fado. “O que foi que Aconteceu”, da Ana Moura. Lembra-se? Eu sei que sim. “Aconteceu, eu não estava à tua espera/E tu não procuravas nem sabias quem eu era/Eu estava ali só porque tinha de estar/E tu chegaste porque tinhas de chegar...”. O nosso fado era lindo. Às vezes ainda o ouço. Pensar em si já não me magoa. Mas ontem, depois daquelas palavras, foi impossível não relembrar muito do que aconteceu. A razão nas palavras que me foram ditas foi assustadoramente real, e ainda sinto o coração disparar só de pensar nelas.
Ao seu lado o tempo voava, e quando demos por nós já tinham passado quase seis meses desde que nos havíamos conhecido. Foi o menino quem se lembrou. Achei imensa piada quando me enviou aquela mensagem escrita a dizer: “O “ahpoijé” nasceu há quase seis meses. E há quase seis meses que o seu sorriso me faz feliz! Beijo”.
Muitas são as vezes em que dou comigo a pensar nas pequenas coisas. Nas suas e nas minhas. Sempre disse que o menino tinha ar de cliché, e isso sempre o arreliou. Com o cabelo despenteadamente alinhado e o sorriso malandro, não havia como não dizer isso. Recordo-me da primeira vez que lhe disse isso. “Sabe, o menino tem ar de cliché!”. Ficou a olhar para mim sem saber se soltava a gargalhada que tinha presa na garganta ou se, pelo contrário, fazia ar de zangado e ofendido. A gargalhada venceu e à sua juntou-se a minha.
No dia em que tudo terminou estava a chover. Recordo-me de ter caminhado à chuva durante mais de duas horas. Percorri vezes sem conta aquele jardim e os arredores em busca de qualquer coisa que o trouxesse de volta a mim. Mas isso era impossível. Aquele momento tinha separado as nossas vidas para sempre.
Depois de as gostas da chuva terem lavado o meu rosto, naquela chuvosa e fria tarde de Janeiro, não voltei a verter uma lágrima, sequer, por si. Mas ontem, depois daquela conversa, percebi que ainda tremo ao ouvir o seu nome. Acima de tudo, percebi que não se esquece alguém que se amou. Amei-o, e hei-de amá-lo sempre, mas naquele momento da minha vida.
Faço minhas as suas palavras para dizer que o passado está arrumado e não volta, e que o futuro é uma incógnita por desvendar. Não nego que tenho saudades suas, e dos momentos em que fomos felizes, mas são essas saudades que me fazem perceber que quero mais. Quero ser feliz com alguém, como fui consigo um dia. Quero voltar a ter vontade de dizer “Amo-te” a alguém. Mais, quero dizê-lo sem receios. Sim, quero dizer a alguém aquilo que, por medo, nunca lhe disse a si.
Despeço-me com um beijo doce e meigo, como aqueles que me dava na testa quando me abraçava forte e me sussurava ao ouvido que ia correr tudo bem.
Beijo,
B.”
“Meu Querido,
Nunca encontrei as palavras certas para lhe dizer o que restou depois do fim. Mas ontem, ao relembrar um dos nossos momentos mágicos, percebi que não poderia adiar mais. E, por isso, resolvi escrever-lhe. O menino sabe que sempre privilegiei as palavras escritas. Embora sempre tenha adorado ouvir as ditas, aquelas que ficam tatuadas na memória com a entoação única do momento em que são proferidas. E guardo todas as suas num lugar muito especial, junto ao coração.
Sempre me disse que as coisas boas da vida deveriam ser vividas no momento, e que só ele era importante. O passado já estava arrumado lá atrás e a chegada do futuro era incerta. Deixei-me fascinar pela facilidade e leveza com que o menino vivia e encarava a vida. Ao seu lado tudo parecia fácil e possível. E fui-me deixando ir, como se fosse levada pela corrente do mar. Tal e qual criança imprudente, que não sabendo nadar se aventura no mar, apaixonei-me por si sem pensar duas vezes e fiz-me naufraga nos sentimentos que não consegui controlar. Naquela altura era ainda uma menina tonta que acreditava podia controlar tudo, sem saber que os sentimentos não se controlam. E eu não controlei. Mostrou-me sempre pouco e eu nunca soube pedir mais. Também nunca soube dar-lhe sem que pedisse. E sempre pediu. Queria saber e sentir sempre mais. Deixei o meu coração subir ao cadafalso e ser entregue a si. Depois disso não me recordo como tudo aconteceu. As situações precipitaram-se umas a seguir às outras e o destino que nos juntou encarregou-se de nos levar para longe de nós.
Quando penso no que fomos um dia, recordo-me sempre daquele fado. “O que foi que Aconteceu”, da Ana Moura. Lembra-se? Eu sei que sim. “Aconteceu, eu não estava à tua espera/E tu não procuravas nem sabias quem eu era/Eu estava ali só porque tinha de estar/E tu chegaste porque tinhas de chegar...”. O nosso fado era lindo. Às vezes ainda o ouço. Pensar em si já não me magoa. Mas ontem, depois daquelas palavras, foi impossível não relembrar muito do que aconteceu. A razão nas palavras que me foram ditas foi assustadoramente real, e ainda sinto o coração disparar só de pensar nelas.
Ao seu lado o tempo voava, e quando demos por nós já tinham passado quase seis meses desde que nos havíamos conhecido. Foi o menino quem se lembrou. Achei imensa piada quando me enviou aquela mensagem escrita a dizer: “O “ahpoijé” nasceu há quase seis meses. E há quase seis meses que o seu sorriso me faz feliz! Beijo”.
Muitas são as vezes em que dou comigo a pensar nas pequenas coisas. Nas suas e nas minhas. Sempre disse que o menino tinha ar de cliché, e isso sempre o arreliou. Com o cabelo despenteadamente alinhado e o sorriso malandro, não havia como não dizer isso. Recordo-me da primeira vez que lhe disse isso. “Sabe, o menino tem ar de cliché!”. Ficou a olhar para mim sem saber se soltava a gargalhada que tinha presa na garganta ou se, pelo contrário, fazia ar de zangado e ofendido. A gargalhada venceu e à sua juntou-se a minha.
No dia em que tudo terminou estava a chover. Recordo-me de ter caminhado à chuva durante mais de duas horas. Percorri vezes sem conta aquele jardim e os arredores em busca de qualquer coisa que o trouxesse de volta a mim. Mas isso era impossível. Aquele momento tinha separado as nossas vidas para sempre.
Depois de as gostas da chuva terem lavado o meu rosto, naquela chuvosa e fria tarde de Janeiro, não voltei a verter uma lágrima, sequer, por si. Mas ontem, depois daquela conversa, percebi que ainda tremo ao ouvir o seu nome. Acima de tudo, percebi que não se esquece alguém que se amou. Amei-o, e hei-de amá-lo sempre, mas naquele momento da minha vida.
Faço minhas as suas palavras para dizer que o passado está arrumado e não volta, e que o futuro é uma incógnita por desvendar. Não nego que tenho saudades suas, e dos momentos em que fomos felizes, mas são essas saudades que me fazem perceber que quero mais. Quero ser feliz com alguém, como fui consigo um dia. Quero voltar a ter vontade de dizer “Amo-te” a alguém. Mais, quero dizê-lo sem receios. Sim, quero dizer a alguém aquilo que, por medo, nunca lhe disse a si.
Despeço-me com um beijo doce e meigo, como aqueles que me dava na testa quando me abraçava forte e me sussurava ao ouvido que ia correr tudo bem.
Beijo,
B.”
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