“O destino por vezes prega-nos partidas e coloca-nos à prova quando menos esperamos. Entrar na empresa logo de manhã e ser surpreendida pelo chefe à minha espera, quase ia fazendo com que eu tivesse uma coisinha má à frente do departamento todo. “Marta, preciso de falar consigo. Faça o favor de me acompanhar ao meu gabinete.” Aquele homem de ar altivo e austero sempre me provocou arrepios. E daquela vez não foi diferente. Quando saí do gabinete do chefe nem queria acreditar. Sentia-me uma menina de 5 anos a quem tinha acabado de ser dado um presente. A proposta, além de irrecusável, era o motivo que me faltava para ir embora e deixar tudo para trás. Integrar a equipa que ia chefiar o Departamento de Marketing da filial que a empresa ia abrir em Londres, durante dois anos. Só podia mesmo estar a sonhar. Mas não, não era sonho. Era a realidade, a oportunidade de mudar a minha vida e apagar o Afonso de mim. Até àquele momento nunca havia conseguido entender como é que alguém poderia fugir para esquecer, mas, num abrir e fechar de olhos, tudo passou a fazer mais sentido. “Não precisa de me responder já. Tem até ao final da semana para decidir. Afinal é uma grande mudança na sua vida.”, disse-me o chefe depois de me fazer a proposta. A vontade que tive foi de lhe dizer, imediatamente, que sim, mas controlei-me. Não tinha dúvida alguma que ia aceitar, só que devia fazer tudo com calma.
Tinha muitas coisas para tratar antes de dar a resposta definitiva ao chefe, e a primeira, e mais importante de todas, era contar aos Pais, ao Francisco e à Eduarda que me ia embora daí a três semanas, e que nem sequer presente estaria no Baptizado do Martim. Foram duas conversas difíceis. Os Pais, apesar de ficarem felizes com a oportunidade que me estava a ser dada, ficaram, também, tristes por saberem que o verdadeiro motivo de eu ter aceite era querer ficar o mais longe possível do Afonso e do vazio profundo e escuro em que a minha vida se tinha transformado desde que a nossa história havia terminado. O Francisco e a Eduarda é que não aceitaram muito bem. O meu irmão chamou-me cobarde e disse que já não me reconhecia. Custou-me muito ver a tristeza no olhar dele. “Preciso de me afastar para me reconstruir...”, foi a única coisa que consegui dizer-lhe. A custo lá percebeu que eu tinha mesmo de me ir embora poder voltar a ser eu. Depois da conversa, disseram-me que o Afonso já não ia ser o Padrinho do Martim, porque já não fazia sentido. “Queríamos que fossem os dois!”, disse-me a Eduarda resignada e sem ter mais argumentos para me demover. O Francisco resolveu convidar o nosso irmão Bernardo para ser o Padrinho e a Eduarda decidiu-se pela Mariana, a prima que era como se fosse uma irmã.
As três semanas seguintes passaram a voar e o dia da partida, finalmente, chegou. A Mãe ficou a tomar conta da minha casa. Descansou-me dizendo que a Rosa iria duas vezes por semana limpar a casa e abrir as janelas para o “ar entrar”. O Pai pediu-me que para tomar conta de mim. Acho que até àquele momento ele nunca tinha percebido que a menina pequenina era já uma mulher. Recordo-me que nem quando saí de casa dos pais para viver sozinha, eles tiveram uma reacção assim. Afinal a minha casa não era assim tão longe da deles, e eu estaria sempre por perto. Só que a filha mais nova, a única menina dos três filhos, tinha, de repente, criado asas que a levariam para longe dele. Mas não poderia ser de outra maneira.
Hoje, passados seis meses desde a partida, começo, novamente, a sentir-me eu. As insónias já se foram há muito, e o facto de todos terem respeitado o meu pedido de não voltar a saber o que quer que fosse do Afonso, ajudou imenso. O Francisco ainda tentou por duas ou três vezes falar-me dele, mas cortei-lhe a palavra. Não podia permitir que a minha paz se fosse embora por causa de “notícias do Afonso”. Sinto que começo, finalmente, a recuperar o brilho e a alegria que perdi na noite da inauguração do Restaurante do Afonso. Às vezes ainda penso nele, mas aprendi a marginalizar a saudade e o amor que, embora me custe admitir, ainda sinto por ele. Mas um dia acabará por passar, porque a vida encarregar-se-á de colocar tudo no seu devido lugar.”
Tinha muitas coisas para tratar antes de dar a resposta definitiva ao chefe, e a primeira, e mais importante de todas, era contar aos Pais, ao Francisco e à Eduarda que me ia embora daí a três semanas, e que nem sequer presente estaria no Baptizado do Martim. Foram duas conversas difíceis. Os Pais, apesar de ficarem felizes com a oportunidade que me estava a ser dada, ficaram, também, tristes por saberem que o verdadeiro motivo de eu ter aceite era querer ficar o mais longe possível do Afonso e do vazio profundo e escuro em que a minha vida se tinha transformado desde que a nossa história havia terminado. O Francisco e a Eduarda é que não aceitaram muito bem. O meu irmão chamou-me cobarde e disse que já não me reconhecia. Custou-me muito ver a tristeza no olhar dele. “Preciso de me afastar para me reconstruir...”, foi a única coisa que consegui dizer-lhe. A custo lá percebeu que eu tinha mesmo de me ir embora poder voltar a ser eu. Depois da conversa, disseram-me que o Afonso já não ia ser o Padrinho do Martim, porque já não fazia sentido. “Queríamos que fossem os dois!”, disse-me a Eduarda resignada e sem ter mais argumentos para me demover. O Francisco resolveu convidar o nosso irmão Bernardo para ser o Padrinho e a Eduarda decidiu-se pela Mariana, a prima que era como se fosse uma irmã.
As três semanas seguintes passaram a voar e o dia da partida, finalmente, chegou. A Mãe ficou a tomar conta da minha casa. Descansou-me dizendo que a Rosa iria duas vezes por semana limpar a casa e abrir as janelas para o “ar entrar”. O Pai pediu-me que para tomar conta de mim. Acho que até àquele momento ele nunca tinha percebido que a menina pequenina era já uma mulher. Recordo-me que nem quando saí de casa dos pais para viver sozinha, eles tiveram uma reacção assim. Afinal a minha casa não era assim tão longe da deles, e eu estaria sempre por perto. Só que a filha mais nova, a única menina dos três filhos, tinha, de repente, criado asas que a levariam para longe dele. Mas não poderia ser de outra maneira.
Hoje, passados seis meses desde a partida, começo, novamente, a sentir-me eu. As insónias já se foram há muito, e o facto de todos terem respeitado o meu pedido de não voltar a saber o que quer que fosse do Afonso, ajudou imenso. O Francisco ainda tentou por duas ou três vezes falar-me dele, mas cortei-lhe a palavra. Não podia permitir que a minha paz se fosse embora por causa de “notícias do Afonso”. Sinto que começo, finalmente, a recuperar o brilho e a alegria que perdi na noite da inauguração do Restaurante do Afonso. Às vezes ainda penso nele, mas aprendi a marginalizar a saudade e o amor que, embora me custe admitir, ainda sinto por ele. Mas um dia acabará por passar, porque a vida encarregar-se-á de colocar tudo no seu devido lugar.”
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