“O tempo tem passado a um ritmo dolorosamente lento. Os dias arrastam-se numa morosidade que me faz acreditar que o tempo vai parar a qualquer momento. A tua saída da minha vida foi repentina demais e deixou em mim um vazio imenso e profundo. Sei que fui eu quem te pediu, mais uma vez, para sair. Mas desta vez não tinha escolha. O teu filho está quase a nascer e é ao lado dele que deves estar. Não há volta a dar a isso. Há uns dias soube pelo Francisco que nunca chegaste a ir viver para casa dela. Contou-me que lhe tens dado todo o apoio mas que continuas a querer comprovar se o filho é mesmo teu, ou não. Receber a tua chamada ontem fez-me tremer e ter vontade de te pedir que voltasses. No instante que ouvi a tua voz do outro lado do telefone sussurrar-me ao ouvido que tinhas saudades minhas, tive uma vontade quase incontrolável de me refugiar nos teus braços e pedir-te que fosses para sempre meu. Disseste-me que quando a criança nascer vais tirar as dúvidas que tens. Pediste-me que esperasse só mais um pouco. Afinal o Francisco também te mantém informado do que se passa na minha vida. “Sei que não colocaste ninguém no meu lugar. Só te peço mais um tempo. Depois vamos poder ser felizes.” Mas não tenho ilusões. Será que acreditas ser capaz de deixar a Mãe e o filho para trás se ficar provado que não és o Pai biológico? Eu não acredito. Sempre quiseste ser pai, e esta criança irá preencher esse vazio que existe na tua vida.
Recordo-me daquela noite fria de Inverno em que, perdido nos meus braços, me disseste como gostavas de ser Pai. Olhei-te com ar enternecido e pedi-te para esperarmos mais um pouco. Os teus 33 anos já faziam o teu relógio biológico funcionar, mas eu ainda não estava preparada. Apesar de não serem muitos os anos que nos separam, eram os suficientes para que eu te pedisse para esperarmos mais um ano. “Para o ano encomendamos um priminho ou uma priminha para a Maria! Prometo!”. Mas agora tudo isso deixou de fazer sentido, apesar de ontem teres voltado a dizer que os nossos filhos vão ser lindos, tal como a Avó Madalena previa. Só que eu já não acredito em nada.
Às vezes penso que seria preferível que tivesses arranjado outra mulher, que te tivesses apaixonado por alguém mais do que por mim, e que essa fosse a verdadeira razão da nossa separação. Custar-me-ia muito, de qualquer maneira, mas ao menos acabaria por passar. Mas um filho não se apaga, é para toda a vida. E não posso, nem quero, alimentar mais ilusões acerca de nós os dois. A vida vai ter de continuar de alguma maneira. Foste um sonho lindo que me atrevi a acreditar que poderia ser real. Mas os meus medos levaram-te para mais longe do que eu julgava. Sei que jamais poderei culpar-te por teres tentado viver a tua vida sem mim durante aqueles seis meses que estivemos separados. Durante esse tempo nada levava a crer que nos voltaríamos a entender. As mágoas daquela ruptura eram profundas demais. Mas a vida trocou-nos as voltas, juntando-nos para voltar, no momento seguinte, a separar-nos. Só que desta vez para sempre. Agora só falta saber como vou conseguir dizer que não ao Francisco e à Eduarda. Mas terá mesmo de ser.
Quando o Martim nasceu, tremi. Entrei na maternidade a medo, porque não queria encontrar-te. O Francisco descansou-me dizendo que te tinha pedido que só lá fosses ao final do dia, para não nos cruzarmos. E assim foi. Há hora de almoço lá fui eu, meio a medo, ainda assim, ver o meu primeiro sobrinho. A Eduarda estava radiante com o seu menino lindo e disse-me com aquele ar embevecido e convicto que só as mães conseguem ter: “O meu filho é o bebé mais lindo do mundo! Vês como eu tinha razão? Eu sabia que ia ter um Martim!”. E sabia mesmo. Recordo-me que, no dia em que nos deu a notícia de que estava grávida, a Eduarda disse que ia ter um menino. Peguei nele, tão frágil e indefeso, e não consegui evitar pensar no teu filho. Também é um menino e vai chamar-se João Maria. Ela quer dar-lhe o nome do teu Avô. É engraçado e triste, ao mesmo tempo, pensar nisso. Porque quando me disseste que gostavas muito de ser Pai, disseste-me, também, que gostarias que o nosso primeiro filho, caso fosse um menino, se chamasse João Maria. E agora o teu filho vai ter esse nome.
O pedido da Eduarda, enquanto eu tinha o Martim nos braços, caiu-me em cima como uma bomba. “Eu e o Francisco gostávamos que, apesar de tudo, tu e o Afonso fossem os padrinhos do Martim.” Saí da maternidade com a cabeça a mil à hora, sem saber o que fazer. Como é que eu vou dizer que não ao meu irmão e à minha cunhada? Como é que lhes vou explicar que não posso ser madrinha do filho deles se o padrinho for o homem que amo e que não posso ter? Como???”
Recordo-me daquela noite fria de Inverno em que, perdido nos meus braços, me disseste como gostavas de ser Pai. Olhei-te com ar enternecido e pedi-te para esperarmos mais um pouco. Os teus 33 anos já faziam o teu relógio biológico funcionar, mas eu ainda não estava preparada. Apesar de não serem muitos os anos que nos separam, eram os suficientes para que eu te pedisse para esperarmos mais um ano. “Para o ano encomendamos um priminho ou uma priminha para a Maria! Prometo!”. Mas agora tudo isso deixou de fazer sentido, apesar de ontem teres voltado a dizer que os nossos filhos vão ser lindos, tal como a Avó Madalena previa. Só que eu já não acredito em nada.
Às vezes penso que seria preferível que tivesses arranjado outra mulher, que te tivesses apaixonado por alguém mais do que por mim, e que essa fosse a verdadeira razão da nossa separação. Custar-me-ia muito, de qualquer maneira, mas ao menos acabaria por passar. Mas um filho não se apaga, é para toda a vida. E não posso, nem quero, alimentar mais ilusões acerca de nós os dois. A vida vai ter de continuar de alguma maneira. Foste um sonho lindo que me atrevi a acreditar que poderia ser real. Mas os meus medos levaram-te para mais longe do que eu julgava. Sei que jamais poderei culpar-te por teres tentado viver a tua vida sem mim durante aqueles seis meses que estivemos separados. Durante esse tempo nada levava a crer que nos voltaríamos a entender. As mágoas daquela ruptura eram profundas demais. Mas a vida trocou-nos as voltas, juntando-nos para voltar, no momento seguinte, a separar-nos. Só que desta vez para sempre. Agora só falta saber como vou conseguir dizer que não ao Francisco e à Eduarda. Mas terá mesmo de ser.
Quando o Martim nasceu, tremi. Entrei na maternidade a medo, porque não queria encontrar-te. O Francisco descansou-me dizendo que te tinha pedido que só lá fosses ao final do dia, para não nos cruzarmos. E assim foi. Há hora de almoço lá fui eu, meio a medo, ainda assim, ver o meu primeiro sobrinho. A Eduarda estava radiante com o seu menino lindo e disse-me com aquele ar embevecido e convicto que só as mães conseguem ter: “O meu filho é o bebé mais lindo do mundo! Vês como eu tinha razão? Eu sabia que ia ter um Martim!”. E sabia mesmo. Recordo-me que, no dia em que nos deu a notícia de que estava grávida, a Eduarda disse que ia ter um menino. Peguei nele, tão frágil e indefeso, e não consegui evitar pensar no teu filho. Também é um menino e vai chamar-se João Maria. Ela quer dar-lhe o nome do teu Avô. É engraçado e triste, ao mesmo tempo, pensar nisso. Porque quando me disseste que gostavas muito de ser Pai, disseste-me, também, que gostarias que o nosso primeiro filho, caso fosse um menino, se chamasse João Maria. E agora o teu filho vai ter esse nome.
O pedido da Eduarda, enquanto eu tinha o Martim nos braços, caiu-me em cima como uma bomba. “Eu e o Francisco gostávamos que, apesar de tudo, tu e o Afonso fossem os padrinhos do Martim.” Saí da maternidade com a cabeça a mil à hora, sem saber o que fazer. Como é que eu vou dizer que não ao meu irmão e à minha cunhada? Como é que lhes vou explicar que não posso ser madrinha do filho deles se o padrinho for o homem que amo e que não posso ter? Como???”
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