domingo, março 11, 2007

"Escolhas" (VII)

“O tempo tem passado a um ritmo dolorosamente lento. Os dias arrastam-se numa morosidade que me faz acreditar que o tempo vai parar a qualquer momento. A tua saída da minha vida foi repentina demais e deixou em mim um vazio imenso e profundo. Sei que fui eu quem te pediu, mais uma vez, para sair. Mas desta vez não tinha escolha. O teu filho está quase a nascer e é ao lado dele que deves estar. Não há volta a dar a isso. Há uns dias soube pelo Francisco que nunca chegaste a ir viver para casa dela. Contou-me que lhe tens dado todo o apoio mas que continuas a querer comprovar se o filho é mesmo teu, ou não. Receber a tua chamada ontem fez-me tremer e ter vontade de te pedir que voltasses. No instante que ouvi a tua voz do outro lado do telefone sussurrar-me ao ouvido que tinhas saudades minhas, tive uma vontade quase incontrolável de me refugiar nos teus braços e pedir-te que fosses para sempre meu. Disseste-me que quando a criança nascer vais tirar as dúvidas que tens. Pediste-me que esperasse só mais um pouco. Afinal o Francisco também te mantém informado do que se passa na minha vida. “Sei que não colocaste ninguém no meu lugar. Só te peço mais um tempo. Depois vamos poder ser felizes.” Mas não tenho ilusões. Será que acreditas ser capaz de deixar a Mãe e o filho para trás se ficar provado que não és o Pai biológico? Eu não acredito. Sempre quiseste ser pai, e esta criança irá preencher esse vazio que existe na tua vida.
Recordo-me daquela noite fria de Inverno em que, perdido nos meus braços, me disseste como gostavas de ser Pai. Olhei-te com ar enternecido e pedi-te para esperarmos mais um pouco. Os teus 33 anos já faziam o teu relógio biológico funcionar, mas eu ainda não estava preparada. Apesar de não serem muitos os anos que nos separam, eram os suficientes para que eu te pedisse para esperarmos mais um ano. “Para o ano encomendamos um priminho ou uma priminha para a Maria! Prometo!”. Mas agora tudo isso deixou de fazer sentido, apesar de ontem teres voltado a dizer que os nossos filhos vão ser lindos, tal como a Avó Madalena previa. Só que eu já não acredito em nada.
Às vezes penso que seria preferível que tivesses arranjado outra mulher, que te tivesses apaixonado por alguém mais do que por mim, e que essa fosse a verdadeira razão da nossa separação. Custar-me-ia muito, de qualquer maneira, mas ao menos acabaria por passar. Mas um filho não se apaga, é para toda a vida. E não posso, nem quero, alimentar mais ilusões acerca de nós os dois. A vida vai ter de continuar de alguma maneira. Foste um sonho lindo que me atrevi a acreditar que poderia ser real. Mas os meus medos levaram-te para mais longe do que eu julgava. Sei que jamais poderei culpar-te por teres tentado viver a tua vida sem mim durante aqueles seis meses que estivemos separados. Durante esse tempo nada levava a crer que nos voltaríamos a entender. As mágoas daquela ruptura eram profundas demais. Mas a vida trocou-nos as voltas, juntando-nos para voltar, no momento seguinte, a separar-nos. Só que desta vez para sempre. Agora só falta saber como vou conseguir dizer que não ao Francisco e à Eduarda. Mas terá mesmo de ser.
Quando o Martim nasceu, tremi. Entrei na maternidade a medo, porque não queria encontrar-te. O Francisco descansou-me dizendo que te tinha pedido que só lá fosses ao final do dia, para não nos cruzarmos. E assim foi. Há hora de almoço lá fui eu, meio a medo, ainda assim, ver o meu primeiro sobrinho. A Eduarda estava radiante com o seu menino lindo e disse-me com aquele ar embevecido e convicto que só as mães conseguem ter: “O meu filho é o bebé mais lindo do mundo! Vês como eu tinha razão? Eu sabia que ia ter um Martim!”. E sabia mesmo. Recordo-me que, no dia em que nos deu a notícia de que estava grávida, a Eduarda disse que ia ter um menino. Peguei nele, tão frágil e indefeso, e não consegui evitar pensar no teu filho. Também é um menino e vai chamar-se João Maria. Ela quer dar-lhe o nome do teu Avô. É engraçado e triste, ao mesmo tempo, pensar nisso. Porque quando me disseste que gostavas muito de ser Pai, disseste-me, também, que gostarias que o nosso primeiro filho, caso fosse um menino, se chamasse João Maria. E agora o teu filho vai ter esse nome.
O pedido da Eduarda, enquanto eu tinha o Martim nos braços, caiu-me em cima como uma bomba. “Eu e o Francisco gostávamos que, apesar de tudo, tu e o Afonso fossem os padrinhos do Martim.” Saí da maternidade com a cabeça a mil à hora, sem saber o que fazer. Como é que eu vou dizer que não ao meu irmão e à minha cunhada? Como é que lhes vou explicar que não posso ser madrinha do filho deles se o padrinho for o homem que amo e que não posso ter? Como???”

"Travessuras da Menina Má"


Fiquei presa da primeira à última linha... De Lima a Paris, passando por Londres, Tóquio e Madrid, a "Menina Má" e o seu "Menino Bom" deliciam-nos com uma história de encontros e desencontros capaz de fazer-nos experienciar as mais diferentes emoções.
E mais não digo. Aconselho a leitura deste fabuloso livros de Mario Vargas Llosa a todos aquelas que partilham a mesma paixão pela leitura que eu tenho.

sábado, março 10, 2007

Às vezes gostava de não ser tão dura e tão fria em relação a determinadas situações, coisas e pessoas. O problema é que acho que isso já começa a acontecer de forma generalizada...

sexta-feira, março 09, 2007

Devagarinho

“As coisas e as pessoas só têm a importância que lhes damos. Tens de aprender a relativizar!”

A razão contida nestas palavras é imensa! Não precisei de ouvi-las hoje para a interiorizar, porque, sem me ter dado conta, já o tinha conseguido fazer. No entanto, é sempre bom ouvir verdades preocupadas de quem tanto gosta de nós!

A pouco e pouco, ainda que com a mesma lentidão que algumas feridas demoram a cicatrizar, a vida vai recomeçando a fazer-me bem!

Mau feitio? Eu?

Isto hoje em dia houve-se com cada uma que parecem duas ou três...
Não é que hoje alguém se lembrou de me dizer que tenho mau feitio???
Acho mal...
Aliás, acho muito mal...
Isso é lá coisa que se diga???
Ainda por cima não corresponde em nada à verdade... ;-)
Eu???
Ter mau feitio???
Qué lá isso???

quinta-feira, março 08, 2007

"Grito"

"Há alturas na vida
Em que se sente o pior
Como que uma saída
Refúgio na dôr

E ao olhar para trás
Pensar no que aconteceu
O que se vê não apraz
Não gritou mas escondeu

E salta a fúria em nós
Rebenta o ser mais calado
Querer puxar pela voz
Mostrar que está revoltado

À espera o tempo a passar
A desesperar
Ganhar a coragem de gritar e gritar

E é nestas alturas
Sou eu mesmo que o digo
Repensamos na falta
Que nos faz um amigo

Alguém que nos mostre a luz
E nos estenda uma mão
Diga que a vida não é cruz
Olhar para trás pedir perdão

E salta a fúria em nós
Rebenta o ser mais calado
Querer puxar pela voz
Mostrar que está revoltado

À espera o tempo a passar
A desesperar
Ganhar a a coragem de gritar e gritar"

(Polo Norte)


Também sinto muito a tua falta, mas o tempo vai voar e em breve voltaremos a estar perto... Gosto mesmo muito de ti... Nunca te esqueças, nem nunca duvides, disso... Afinal, "quando formos crescidos vamos casar um com o outro"... Lembras-te? Já lá vão mais de dez anos e continuamos a dizer os mesmo disparates que diziamos quando tinhamos 12 anos... Talvez seja por isso que a amizade que nos une resistiu à distância e à ausência a que nos forcei há quase 6 anos atrás...
É nestas altura que percebo que há laços que podem mesmo durar para sempre e que, ao contrário do que diz o Francisco, nem tudo tem de ter um fim...

quarta-feira, março 07, 2007

"Retalhos"

Passaram-se, exactamente, dois anos e três meses desde que escrevi estas palavras. Recordo-me que naquela altura, como agora, já não me atrevia a ensaiar um poema há muito tempo. Antes dessa época, quando era ainda uma menina de 16 anos, escrevia poemas e mais poemas. Em boa verdade eram apenas alguns versos dispersos que, por vezes, rimavam uns com os outros. Sempre muito intensos e profundos. Hoje, à distancia dos anos que passaram desde que os escrevi, leio-os (guardo-os todos porque fazem parte de mim) e percebo a inocência e a ingenuidade perdida naquelas palavras, naquelas linhas às quais, com orgulho, chamava poemas.

Um breve encontro com o passado no sábado à noite, ou então a sensação de ter-me cruzado com esse mesmo passado, trouxe-me à memória as linhas que se seguem. As palavras que esse mesmo passado disse terem “perfume a passado”.


"Retalhos"
"Recordações fragmentadas que me invadem a mente,
Me enchem a alma e iluminam o coração…
Tempos que passaram e deram lugar a um presente
Em que os meus olhos chovem de desilusão…

Vestígios de algo que nasceu em mim…
Algo que nunca consegui explicar…
E o que me ficou do que senti,
Lancei a custo nas ondas do Mar…

Perdida em memórias traiçoeiras
Que me fazem esmorecer a alegria,
Recordo as manhãs soalheiras
Em que ver-te me animava o dia…

Retalhos de um sonho que desejei real…
Pedaços de uma ilusão que me fez voar…
Motivos não encontro para tanto mal,
Que me ficou apenas por sonhar… "

(Ana)

segunda-feira, março 05, 2007

Palavras

Sempre tive um fascínio pelas palavras, especialmente pelas escritas. Recordo-me de que quando entrei para a escola queria era aprender a ler e a escrever. Queria poder ler os livros que a Mana e a Ritinha liam, porque queria ser crescida como elas. E, talvez por força dessa minha vontade de crescer, habituei-me, desde muito cedo, a ler. Comecei por devorar os livros da colecção "Uma Aventura". Sabia-os de fio a pavio. Ainda hoje me recordo de algumas das histórias desses livros. Deixava-me envolver pelas palavras e imaginava-me dentro da história. Fechava os olhos e conseguia ver, de um modo inocente e infantil, como eram os lugares, as pessoas, e todas as aventuras pelas quais as personagens passavam. E acreditava que tudo aquilo, de algum modo era real.
Depois cresci e as leituras mudaram um pouco de estílo. Mas, ainda assim, o meu fascínio pelas palavras escritas não diminuiu, antes pelo contrário, aumentou e continua a em manifesta ascensão. Perco-me dentro de uma livraria, e não raras são as vezes em que tenho de me controlar para não comprar mais um livro. Faço sempre questão de lembrar a mim mesma a quantidade de livros que tenho por ler. Mas, às vezes, não resisto e lá compro mais um. Há paixões para todos os gostos e feitios, e esta é uma das minhas!
Mas mais do que ler adoro escrever. E escrevo muito. Especialmente cartas. Adoro escrever cartas e receber respostas. Hoje em dia escrevo mais e-mails, é bem verdade, mas cada resposta que recebo consegue provocar em mim a alegria que antes sentia ao receber uma carta. Mas também há as outras, as que escrevo e não envio. A bem dizer só o fiz em dois momentos da minha vida. E guardo-as como uma espécie de tesouro. São a memória escrita de momentos e sentimentos, umas vezes partilhados, outras incompreendidos. São parte do que sou e representam uma parte da minha aprendizagem como mulher e como pessoa. Os destinatários jamais a lerão, porque estas são memso só minhas!
As palavras escritas sempre fizeram parte de mim. Quando não as conhecia, tinha ansia de as aprender. Quando as conheci, jamais as deixei fugir.
As palavras escritas continuam a fascinar-me, hoje, tanto ou mais do que fascinavam quando era pequena e as queria só para mim...
Entrei hoje, oficialmente, em contagem decrescente... Vão ser 17 longos e torturantes dias de espera... E pela forma como tudo correu não se adivinha grande recompensa...

quinta-feira, março 01, 2007

Afagos d'alma

Há lugares nos quais as paredes emanam recordações. Neles recordamos olhares, sorrisos, palavras, enfim, cumplicidades que tornam as partilhas e os momentos únicos. Lugares como este, o meu, o nosso “Spazio”. Um lugar onde a amizade foi tantas vezes, e continua a ser, consagrada como aquilo que é – a mais bela forma de amor! Um dos meus cafés preferidos, sem dúvida alguma!


Com a alma a precisar de conforto abri a porta e entrei. O sorriso do empregado do costume e aquele “Bons olhos a vejam! Tem andado desaparecida!”, fizeram-me sorrir. É bom entrar num lugar que tanto me diz e ser assim bem recebida! Passados apenas alguns minutos fui presenteada com um novo sorriso. Um sorriso amigo, daqueles que nos enchem o peito de alegria e nos aquecem a alma de tanto que a confortam! A conversa fluiu e fez maravilhas em mim. É bom sentir o carinho daqueles que, conhecendo-nos com todos os nossos defeitos e todas as nossas qualidades, gostam verdadeiramente de nós, e aos quais temos o privilégio de chamar amigos. São eles que não nos deixam cair, que juntam os cacos do nosso coração quando ele se parte, e que nos afagam a alma.

Ao sair daquele lugar, senti o Sol de Inverno que brilhava lá fora aquecer-me o corpo! Já há algum tempo que não me sentia assim tão bem, tão mimada e tão querida!
Adoro mesmo os meus amigos!