segunda-feira, julho 20, 2009

"Caçador de Sóis"

Uma semana depois, ainda dói. “Há-de doer sempre, Atum.”, escrevi-lhe.

Partilhamos uma dor que não era nossa, para logo a seguir partilharmos uma dor ainda maior, que era sua, e que se tornou minha por vê-lo sofrer.

Naqueles dois meses perdeu-se tudo. A dor uniu-nos nos primeiros instantes para depois nos levar para longe de nós e assim nos conservar. “Hei-de estar sempre aqui para ti, Atuna”, disse-me com os olhos marejados de lágrimas. “E eu para ti, Atum.”. Era verdade. É verdade. E há-de ser sempre. Mas a nossa amizade de coisas más não nos deixa viver um com o outro.

Quando 2008 chegou ao fim, disse-me que estava desejoso que 2009 chegasse. “2008 foi um ano para esquecer”, disse-me diversas vezes. “Não digas disparates, 2008 há-de ter valido a pena pelo facto de nos termos conhecido”, dizia-lhe eu sempre em resposta. “É verdade, Atuna, só por isso já valeu a pena”. Naquela altura nem imaginávamos que 2009 iria ter um início tão trágico como teve. Num mês e meio a morte bateu à porta das nossas vidas duas vezes. Da primeira chorámos juntos, porque a nossa dor era igual, porque o destino nos havia mostrado a fragilidade daquilo que somos… Da segunda, dei-lhe o meu abraço, todo o meu afecto e algo que lhe pedi que guardasse para sempre. Chorei por ele, pela sua dor. Nunca pensei vê-lo daquela forma, tão frágil, tão pequenino, tão desprotegido. Doeu-me a sua dor.

Já passaram 6 meses desde então. A tempo voou. Segui o seu conselho, apesar de lhe ter dito que não o faria. “Tu és mesmo teimosa. Ai, Atuna, será que não percebes que eu só quero o melhor para ti???”, disse-me num tom arreliado quando lhe respondi que já tinha a minha decisão tomada. É claro que há duas semanas atrás, quando lhe contei a boa notícia, me respondeu de forma torta e atrevida “Depois eu nunca tenho razão e nunca sei nada, não é? Parabéns, tenho a certeza de que vais ser brilhante”.
Sempre admirei nele a fé que sempre teve em mim. “És capaz de muito mais do que imaginas. Não podes é ser tão insegura. A nota foi mais do que merecida, e tu sabes disso. Da próxima vez não te aturo!!!”, disse-me quando saíram as notas mais esperadas da formação. Mas aturou mais vezes, quando as incertezas e a inseguranças bateram à porta dos meus medos.

Hoje, quando falo dele, de nós, digo que temos uma amizade de coisas más, porque é na dor e no sofrimento que mais nos unimos, que mais próximos ficamos. Fomos, somos e seremos sempre o lado errado da vida um do outro. Ainda assim, tenho saudades dele. E hoje senti-as mais quando ouvi a música que se segue. Pode não ter nada a ver com muita coisa, mas no fundo tem a ver com tudo…



Tenho tantas saudades suas, Atum...

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