quinta-feira, outubro 23, 2008

Conversas de quinta ao fim do dia...

Entro naquele lugar e ao fundo o empregado dá-me um sorriso. Dirijo-me àquela mesa, que está sempre vazia, como se às quintas-feiras, à mesma hora, estivesse reservada para nós. Depois de me deixar sentar, o empregado pergunta-me em tom de afirmação se vou esperar. Já criou connosco uma daquelas relações curiosas entre os empregados de café e os clientes habituais. Diariamente as nossas vidas não passam por aquele lugar, mas às quintas, entre as 19hs e as 20h30, aquele é o nosso ponto de encontro. Somos clientes habituais das quintas ao fim do dia, e é muito bom.
A minha companhia chega ligeiramente atrasada. “Está um trânsito infernal!”, diz-me em jeito de desculpa. Anda sempre atrasado, mas já nem ligo. Com o passar dos anos vamos tolerando os pequenos defeitos que as pessoas de quem gostamos têm.
Como já vem sendo hábito o empregado lança-nos um olhar cúmplice, sem perceber muito bem o que somos um ao outro. Ambos reparamos nisso e rimos. Se dissermos que somos apenas bons amigos ele não vai acreditar, por isso não dizemos nada. Os sete anos que passaram desde que nos conhecemos já nos ensinaram que há coisas que é melhor serem resolvidas em silêncio.
A conversa acontece e ele remata o tema dizendo que gosta de me ver assim, mais animada e com um sorriso no olhar. Dá-me o mote e eu aproveito-o. Digo-lhe que quem não gosta de o ver assim sou eu. Em surdina, quase como num sussurro imperceptível, responde-me que tem algumas coisas para acabar. Faz-se de forte, mas leio-lhe no olhar a tristeza dos que perderam a força para lutar por alguém de quem já gostaram muito. Mais do que faltar-lhe a coragem para resolver a vida, falta-lhe a capacidade de assumir que falhou, que já não dá mais. “Tudo aquilo em que entrei até hoje foi para ganhar!”, diz-me muitas vezes em tom de brincadeira, e isto não é excepção. Mas hoje senti-o diferente, com mais receio do que é costume. Senti-me impotente perante aquela postura.
Usei as suas próprias palavras para lhe mostrar o caminho – “Para um lado ou para o outro tudo se há-de resolver!”. Comigo funcionou, e eu quero acreditar que com ele isso também irá acontecer.
Na próxima quinta lá estaremos, no mesmo lugar e à mesma hora...

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