Diz-se que as conversas são como as cerejas, depois de uma apetece sempre outra.
Gosto de palavras. Não, minto. Amo as palavras. E respeito-as, acima de tudo. Por isso olho com certo desdém quem as usa de forma leviana, quem diz por palavras o que não sente, só porque tem artes de ilusionista.
Cada palavra que se diz é uma escolha que se faz a cada instante que passa. A palavra é aquela e não outra, naquele momento, porque assim tem de ser, porque quem a profere a escolheu por algum motivo que só no seu intimo é conhecido. E assim como escolhemos as palavras, escolhemos também os destinatários dos nossos afectos.
Há muito pouco tempo, numa longa e agradável conversa pela madrugada dentro, o meu interlocutor disse-me, com uma convicção assustadora, que nós escolhemos amar, ou não, uma pessoa. Que escolhemos entregar-nos àquela pessoa, e não a outra. Num primeiro momento, confesso que o olhei com cepticismo e desconfiança, mas à medida que as suas razões iam desfilando à minha frente, qual parada militar alinhada e irrepreensível, fui percebendo que, talvez, ele tivesse razão.
Quantas vezes não nos deixámos envolver por uma pessoa em detrimento de outra? Quantas vezes preferimos não amar a pessoa que estava ao nosso lado, que nos amava, para irmos em busca de alguém que julgámos melhor? Quantas vezes olhámos para alguém e pensamos que aquela pessoa ainda iria ser nossa?
Quem de nós nunca passou por alguma destas situações, ou até por outras aqui não elencadas?
E será que tudo isto não foram escolhas? Com a distância temporal devida desde aquela conversa, consigo perceber que foram, sim.
Assim como aquela conversa, que surgiu depois de muitas outras, foi também uma escolha.
Sempre me questionei sobre quais os motivos que levam as pessoas a criar mais empatia umas com as outras e não com terceiros. E sempre acreditei que a vida era mesmo assim. Mas hoje consigo perceber que não é só a vida que traça o nosso caminho. Existe, bem presente em nós, uma incomensurável responsabilização sobre o caminho que trilhamos.
Não desresponsabilizo, com isto, a vida. A vida que coloca as pessoas no nosso caminho naquele momento e não noutro. A vida que nos coloca nas encruzilhadas e nos faz perceber que temos de seguir, obrigatoriamente, por um caminho, sob pena de perdermos a vida que temos. A vida que nos mostra que há caminhos sem retorno, mas que há outros em que podemos voltar atrás e reescrever, com outras palavras a histórias que deixamos inacabadas.
Um dia, alguém, disse-me o seu lema, a sua forma de vida – “Não tenhas medo de ser feliz!”. E naquele momento não percebi. E contra essa máxima, fechei as minhas portas ao mundo e assim as conservei durante um ano e meio.
Hoje, poucos meses depois de uma ruptura escolhida por outro alguém, sinto-me pronta para fazer as escolhas que tiverem de ser feitas, e para receber de braços abertos tudo aquilo que a vida tiver para me dar.
Porque há coisas que só acontecem quando têm de acontecer.
Porque os momentos têm todos uma razão de ser...