Há pouco mais de três anos, deram-me um presente especial. Um livro. Uma história daquelas que fazem sonhar. Na primeira página do livro estavam escritas estas palavras: “Para que aprendas a “voar” da melhor forma!”. Devorei o livro até ao fim, e perdi-me de amores por uma das suas passagens. Hoje partilho-a convosco porque quero levantar voo e, de algum modo, sinto as asas presas. Tal como a “Ditosa”, também eu tenho medo de aprender (ou reaprender) a voar...
Esta passagem sempre me ajudou a reflectir. Pode ser que desta vez tenha o mesmo efeito.
"(...) Fazendo trejeitos de choro, Ditosa contou-lhe tudo o que Matias lhe havia guinchado. Zorbas lambeu-lhe as lágrimas e de repente deu consigo a miar como nunca antes fizera:
- Tu és uma gaivota. Nisso o chimpanzé tem razão, mas só nisso. Todos gostamos de ti, Ditosa. E gostamos de ti porque és uma gaivota, uma linda gaivota. Não te contradissemos quando te ouvimos grasnar que és um gato, porque nos lisonjeia que queiras ser como nós; mas és diferente, e gostamos de que sejas diferente. Não pudemos ajudar a tua mãe, mas a ti sim. Protegemos-te desde que saíste da casca. Demos-te todo o nosso carinho sem nunca pensarmos em fazer de ti um gato. Queremos-te gaivota. Sentimos que também gostas de nós, que somos teus amigos, a tua família, e é bom que saibas que contigo aprendemos uma coisa que nos enche de orgulho: aprendemos a apreciar, a respeitar e a gostar de um ser diferente. É muito fácil gostar dos que são iguais a nós, mas fazê-lo com alguém diferente é muito difícil, e tu ajudaste-nos a consegui-lo. És uma gaivota e tens de seguir o teu destino de gaivota. Tens de voar. Quando o conseguires, Ditosa, garanto-te que serás feliz, e então os teus sentimentos para connosco e os nossos para contigo serão mais intensos e belos, porque será a amizade entre dois seres totalmente diferentes.
- Tenho medo de voar - grasnou Ditosa endireitando-se.
- Quando isso acontecer eu estarei contigo - miou zorbas lambendo-lhe a cabeça. (...)"
(História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar,
Luís Sepúlveda)