terça-feira, outubro 31, 2006

"Escolhas" (IV)

Perguntaste-me se eu tinha certeza de que era mesmo isso que queria. Sinto, de verdade, que desta vez é diferente. A minha casa e a minha cama já se tornaram grandes demais para uma só pessoa. Sem ti aqui, a casa fica silenciosa demais. Quando, da outra vez, te pedi para ir embora sentia-me sufocada. Naquela altura as coisas não foram pensadas e aconteceram rápido demais. Agora é diferente. Não sei explicar porque é que é diferente, mas sinto, sei, que é. O que sentimos um pelo outro está mais amadurecido, mais forte. Não posso prometer-te que vou ficar contigo até ao fim da vida. Nem tu podes prometer-me que vais ficar comigo para sempre. A única coisa que podemos fazer é lutar para ficarmos juntos sempre mais um dia, e quem sabe assim, conseguirmos chegar juntos ao fim da vida. É claro que eu adorava que o que vimos hoje enquanto passeávamos no jardim acontecesse connosco. É claro que eu adorava que quando fossemos velhinhos como aquele casal andássemos assim, de mãos dadas e cheios de amor um pelo outro reflectido nos nossos olhos. Só que não te posso prometer que assim será. Apenas posso prometer-te que darei o melhor de mim para que assim seja. Percebo o teu receio. Já te pedi que saísses da minha casa e da minha vida uma vez. É com os erros que se aprende. E aquela separação fez-me perceber que é contigo ao meu lado, na minha casa, de verdade dentro do meu mundo, que posso ser feliz.
Quero que penses bem. Sei que depois do que aconteceu com a tua Avó Madalena te agarraste ainda mais ao que sentimos um pelo outro, como se eu me fosse embora outra vez. Mas não quero que seja esse o motivo que te leve a aceitar o que te proponho. Quero que venhas viver cá para casa outra vez, sim. Pensei muito nisso. É o que quero, porque o que sinto por ti é maior do que alguma vez julguei ser capaz de sentir. Não vou pressionar-te para que tomes uma decisão. Sabes bem que seria incapaz de o fazer. Só te peço que penses com carinho no que te proponho.
Fecho os olhos e tento serenar a mente. Estou agitada, ansiosa e cheia de medo. Sim, também eu tenho medo. Mas não vou deixar que ele me tolde os sentidos. Vou saber esperar por ti, pelas tuas respostas, pelas tuas seguranças, pela tua chegada. Vou ser paciente. A decisão é muito importante e vai provocar novas alterações nas nossas vidas, mais desta vez do que da outra.
A inauguração do teu restaurante está quase a chegar. É já no próximo fim-de-semana. Sei que essa é mais uma das tuas grandes preocupações. Está tudo pronto, mas sei que estás mais nervoso do que uma criança que vai pela primeira vez à escola. Talvez tenha escolhido o momento menos próprio para te pedir que tomasses uma decisão destas, mas sei que se não o tivesse feito agora iria acabar por perder a coragem. E acredita que se foi difícil arranjar coragem para te dizer tudo aquilo, ainda mais difícil foi aguentar os segundos que se seguiram. O teu semblante carregado, sério e impenetrável fez-me tremer da cabeça aos pés. Acho que naquele momento senti medo como já não sentia há muito tempo. “Sabes aquilo que me estás a perguntar? Tens certeza de que é isso mesmo que queres Marta? Não podes voltar a fazer-me entrar no teu mundo para no momento seguinte me mandares embora outra vez!”. Gelei! Tinhas todas as razões do mundo para me falar daquela maneira. Mas, apesar de ter consciência disso, não consegui deixar de me sentir magoada e triste. Disse-te que sim, que sabia bem o que queria, que desta vez era diferente. E esperei que acreditasses em mim e nas minhas verdades. Não fiz nem posso fazer-te juras de amor eterno. Conheces-me bem demais para saberes que sou incapaz de o fazer. Apenas posso estender-te a mão, trazer-te para perto de mim, aninhar-me em ti, tentar conquistar-te um pouco mais a cada dia que passa e deixar-me amar por ti. Sim, porque já não tenho medo que me ames...
Olho constantemente para o telemóvel e para o telefone que insistem em não tocar. Aguardo notícias tuas, mas parece que ainda não é hoje que me vais dar uma resposta. O tempo está a passar e eu começo a ficar impaciente. “Tens de aprender a saber esperar Marta!”, dizes-me tu tantas vezes. Só que eu não sei esperar, e com tanta espera já estou a desesperar. Desta vez vou ser forte e conseguir. Vou mostrar-te que sou capaz de esperar por uma decisão. O ditado diz que “Quem espera sempre alcança”, e eu quero acreditar que assim seja. Mas começo a sentir-me muito pequenina nesta casa.”

quarta-feira, outubro 25, 2006

Encontro com o passado

“A vida, é para ser vivida. Mas se não for, é mais segura...”

Alexandre O’neill

Andei a tarde inteira a pensar nesta frase. Vi, mais uma vez, o filme destes últimos três anos. E, pela primeira vez, senti uma paz que julgava não existir.

Fazia pouco tempo que não olhava o passado nos olhos, mas já fazia algum que não lhe falava. Da última vez olhou-me com um tão ar sério e impenetrável que percebi que já não o conhecia. Aquele era ele, o meu passado, e eu era apenas uma estranha. Confesso que na altura mexeu comigo, fez-me pensar e chegou mesmo a deixar-me triste. Mas hoje, como por magia, foi diferente. E a paz tomou conta de mim.
Em conversa com uma amiga falei-lhe do meu encontro com o passado, dos sorrisos impessoais e das palavras cordiais e educadas. Como não poderia deixar de ser ela fez os comentários de que eu estava à espera. Já os ouvi tantas vezes que fui capaz de antecipar cada palavra. Mas não respondi como costumava responder. Sorri-lhe e limitei-me a dizer: “A vida acontece e muda, e nós mudamos com ela!”.
Agora, aqui sentada a escrever, recordo o momento e percebo o seu verdadeiro significado. Hoje tive a certeza absoluta, daquelas que raramente tenho, de que, desta vez, acabou definitivamente. Lembro que olhei para ele e o achei com um ar mais carregado, mais velho, mais cansado. Há dois meses, quando nos encontramos por acaso e tivemos aquela conversa, não me lembro de o ter visto desta maneira.
Nunca pensei que depois de ter gostado tanto dele seria capaz de o olhar e não sentir nada, nem sequer um frio na barriga. O tempo das borboletas no estômago já se perdeu há muito, e as mãos já não ficam frias nem o coração dispara quando o vejo ao longe.
Já passaram dois anos desde que o sonho se quebrou e eu me fechei a sentir de verdade. Hoje percebi que tenho de deixar a vida acontecer. Não posso continuar, eternamente, a mandar embora quem quer chegar a mim. Vai ser difícil, eu sei, mas estou cansada desta vida segura e sem grandes riscos. Estou cansada da minha racionalidade. Como diria a Vi: “Antes de deixares alguém entrar já estás a arranjar motivos para mandar essa pessoa embora.”. Ela tem razão, eu sei que tem.

“A vida, é para ser vivida. Mas se não for, é mais segura...”

E eu quero viver...

terça-feira, outubro 24, 2006

"Escolhas" (III)

“Estava a ver que este dia nunca mais chegava ao fim. Parece que tudo resolveu acontecer hoje. Mas, no meio de tanta coisa triste, surgiu uma boa notícia. Sei que também ficaste feliz, apesar de tudo. É em dias como estes que recordo uma frase que uma amiga minha costumava dizer muito: “Quando uma porta se fecha há sempre uma janela que se abre.”.
Não queria acreditar quando me ligaste e contaste o que tinha acontecido. Sei o quanto amavas a tua Avó. A Avó Madalena que me adoptou como neta no dia em que me conheceu. Ainda hoje me lembro das palavras dela, naquela chuvosa tarde de Janeiro “Vou ter bisnetos lindos!”. Recordo-me de ter ficado um pouco corada. Aquela senhora de 83 anos a dizer-me uma coisa daquelas deixou-me tímida. Quando te pedi que saísses da minha vida ela ficou triste, mas disse-me que sabia que iríamos ficar juntos. Não sei se ela tinha razão, ou não, mas pelo menos estamos a tentar que isso seja realidade. Mas hoje custou-me muito sentir a dor na tua voz, vê-la nos teus olhos. Nunca pensei ver-te chorar nos meus braços daquela maneira. Sei que custa, que dói, que não é justo. Senti-me impotente. A única coisa que pude fazer foi abraçar-te e fazer-te sentir que não estavas sozinho. “Ainda bem que estás comigo Marta!”.
Agora, aqui sentada na minha cama, percebo que não fazia sentido não estar contigo. O jantar de sexta-feira correu muito bem. Mais uma vez surpreendeste-me. Muitas haviam sido as vezes em que me tinhas falado do teu sonho, mas outras tantas também tinham sido aquelas em que afirmavas a tua falta de coragem para o fazer. “Largar o consultório para me dedicar a um restaurante é loucura, mas é aquilo que eu adorava fazer.”, dizias tantas vezes. Sempre te dei força, mas faltava-te qualquer coisa. Acho que no fundo procuravas encontrar uma forma de conciliar as duas coisas. “Percebi que tinha mesmo de o fazer quando te perdi! Não podia arriscar deixar escapar outro sonho, como aconteceu contigo!”, disseste com os olhos presos à Lua reflectida no mar. E foi naquele momento que percebi que talvez não fosse tarde para nós. Senti a tua mão na minha e prendi os meus olhos nos teus. Esses olhos cor de mel, tão doces como sempre, mais doces do que nunca. Senti a brisa marinha no rosto e deixei que a vida acontecesse ali, naquele instante decisivo. E hoje, quase uma semana depois, percebi que ela tinha mesmo acontecido. Foi para mim que correste quando a vida te feriu e arrancou uma parte de ti. Embalei-te nos meus braços e fiz-te sentir seguro. Era um menino pequenino. O mesmo menino pequenino que se sentava ao colo da Avó Madalena enquanto ela lhe contava histórias. Mas a Avó Madalena já não estava ali, e o menino estava perdido. Encontraste refúgio nos meus braços e isso aproximou-nos ainda mais. Talvez a Avó Madalena tivesse razão. Talvez fiquemos mesmo juntos. Quem sabe? Mas depois de tudo o que aconteceu é isso que mais desejo. A ver vamos se sou capaz de não me sentir de novo presa e sufocada pelos teus sentimentos. Acredita que não quero que isso volte a acontecer.
Mas no meio da tristeza aconteceu uma coisa boa: finalmente o Francisco e a Eduarda vão ter um bebé. O Martim vem aí. Sim, porque a Eduarda diz que tem a certeza de que vai ser um menino!
Sei que ficaste feliz, apesar da tristeza que te tomou a alma. Um bebé vai fazer-nos bem a todos. Vai ser a lufada de ar fresco de que todos precisamos para voltar a sorrir.”

domingo, outubro 22, 2006


Depois de ter aquecido as mãos na chávena, deixo que o chá me aqueça o corpo numa falsa sensação de conforto da alma. Lá fora o vento e a chuva fustigam as janelas e o frio já começa a fazer-se sentir com alguma intensidade. Tento arrumar a cabeça da maneira mais ordeira possível, mas parece que estou perante uma tarefa hercúlea.
Deixo o aroma adocicado do chá envolver-me e inebriar-me os sentidos. A música suave que escuto embala-me e, a pouco e pouco, sinto a minha mente esvaziar-se.
Amanhã é outro dia. E espero que o tempo esteja melhor. Porque esta chuva e este vento, desta vez, deixaram-me triste, o que não é nada habitual.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Como um bebé que aprende a andar piso o chão com força, ainda cambaleando um pouco, ainda com a sensação de que, de um momento para o outro, ele pode fugir-me debaixo dos pés. Parece que o chão começa, a cada dia que passa, a tornar-se mais firme e menos inseguro. Se assim é, ou não, só saberei com o passar do tempo. São as quedas que nos ensinam a andar a andar... E sei bem disso. Ainda assim, tenho medo...

terça-feira, outubro 17, 2006

"Escolhas" (II)

“Quando ouvi o meu nome no meio da multidão nem queria acreditar. “Marta!”. Senti o chão fugir-me. Não precisei voltar-me e olhar para trás para ter a certeza de que eras tu. A tua voz é inconfundível. E o modo como meigo e doce como sempre pronunciaste o meu nome continua intacto. “Olá Afonso! Tudo bem?”, perguntei-te sem saber muito bem o que dizer.
Já não te via há tanto tempo. Sem que eu me desse conta, passaram-se quase seis meses desde aquela noite em que te pedi que saísses da minha casa e, consequentemente, da minha vida. E ontem, no fim de um dia que não poderia ter corrido pior, voltei a encontrar-te e a ver-te sorrir para mim. Perguntaste-me se tinha tempo para um café e, sem pensar duas vezes, disse que sim. As palavras fluíram como a água que brota de uma nascente. Era como se nada daquilo tivesse acontecido. Percebi e tive medo. Dei comigo a pensar no que poderia ter acontecido nestes seis meses de distância. E de um modo quase infantil remexi-me na cadeira, e coloquei a mão e posição “pensativa” como gostavas de lhe chamar. Dizias que sempre que estava a pensar colocava a mão naquela posição. Foi involuntário, mas percebeste. “Pergunta lá! Há qualquer coisa que queres saber, não há?”, disseste com uma naturalidade assustadora. Ainda me conheces tão bem. Não perguntei, é óbvio que não perguntei. Que direito tinha eu de te perguntar o que quer que fosse? Afinal fui eu quem te pediu para saíres.
A conversa continuou e, a pouco e pouco, senti-me mergulhar nos teus olhos cor de mel. Quando me dei conta já tinham passado quase duas horas e eu tinha de ir embora. Ainda tinha de ir a casa tomar banho e trocar de roupa, e não podia atrasar-me para o jantar de aniversário do Francisco. “Então, até logo!”, disseste com um sorriso nos lábios. Como é que eu me podia ter esquecido. Tu és o melhor amigo do meu irmão. Era mais do que certo que estarias presente no seu jantar de aniversário. “Até logo!”, respondi-te de fugida, e virei costas para vir embora.
Quando cheguei a casa sentia-me cansada. Pensava na noite que se avizinhava, e que julgava poder ser menos boa. Tomei um banho quente, quase a escaldar. Como se a água quase a ferver fosse capaz de fazer com que eu deixasse de pensar em ti, naquelas quase duas horas em que me perdi nos teus olhos e no teu sorriso. Saí do banho e olhei para a roupa que de manhã tinha escolhido para vestir à noite. Achei que naõ devia vestir aquilo. Troquei de roupa inúmeras vezes, até que me decidi. Estava simples e discreta. Não queria dar nas vistas.
Ao chegar a casa do Francisco vi que o único lugar de estacionamento vago era mesmo ao lado do teu carro. Estacionei e toquei à campainha. A Eduarda abriu a porta com um sorriso de orelha a orelha e sem sequer me dar tempo para dizer olá encarregou-se de dizer-me que já lá estavas. Entrei e os meus olhos procuram imediatamente os teus. Sorriste-me, e senti-me corar. Ficamos sentados em lados opostos da mesa. Muitas foram as vezes que senti os teus olhos pousados em mim. Muitas foram as vezes que, furtivamente, procurei o teu rosto, o teu sorriso, o teu olhar. Não sabia se devia continuar a procurar-te entre tanta gente que ali estava, ou se havia de fugir. Não sabia o que sentir.
Como tenho andado cheia de trabalho dei a desculpa de estar cansada para me vir embora mais cedo. Quando ia a sair vi-te pegar no casaco e despedires-te do Francisco e da Eduarda. Saí sem esperar por ti. Quando estava quase a chegar ao carro senti o teu passo apressado e parei. Olhei para trás e o mundo quase parou. Não deixei que pronunciasses uma só palavra e, num impulso, beijei-te. Quando percebi o que estava a fazer tentei parar, mas o meu corpo não obedecia à minha mente, e aquele abraço tornou-se mais apertado. O abraço foi começando a perder força e afastamo-nos. Acompanhaste-me até ao carro, até perceberes que estava mesmo ao lado do teu. Não me despedi. Entrei no carro e arranquei sem sequer olhar para trás.
Ao chegar a casa reparei que a luz do atendedor de chamadas piscava. Senti que era a tua voz que ia escutar na gravação e ouvi: “Não voltes a fugir de mim, Marta! Hoje percebi que ainda és muito importante para mim. E sinto que percebeste que também sou muito importante para ti. Não nos vamos perder outra vez, por favor. Dorme bem. Beijos!”. Escutar as tuas palavras fez rolar uma lágrima dos meus olhos. Fiquei sem saber o que fazer. Pensei em ligar-te naquele momento, mas senti que já chegava de impulsos naquela noite.
Deitei-me e demorei a adormecer. Não me saías do pensamento. Talvez até tenha sonhado contigo. Não sei, não me recordo.
O dia hoje foi alucinante. À hora do almoço recebi uma chamada tua: “Queres jantar logo à noite?”. “Quero!”, respondi-te de imediato. “Passo em tua casa às 21h para te ir buscar. Quero mostrar-te um lugar novo. Até logo. Beijos!”. E assim ficamos combinados.
Já são quase 21hs e deves estar mesmo a chegar.”

segunda-feira, outubro 16, 2006

Doce saudade

Em conversa com uma amiga, tecemos umas "considerações" interessantes relativamente aos lugares onde já fomos felizes...
Os lugares onde fomos felizes tendem a deixar-nos uma doce saudade quando ficamos algum tempo longe deles. São lugares que fazem parte de nós, que ajudaram, através dos momentos das nossas vidas que testemunharam, a fazer de nós aquilo que somos. Mas nesses lugares, por vezes, fica apenas isso, a beleza e a memória da felicidade que neles experimentamos. E nem sempre o regresso nos faz sentir como esperávamos. Como canta o Rui Veloso “Nunca voltes ao lugar/Onde já foste feliz/Por muito que o coração diga/Não faças o que ele diz”! E esta música tem a sua razão de ser. Voltarmos aos lugares onde fomos felizes só faz sentido se for para, de alguma maneira, perpetuar essa felicidade. Se for só para recordar, então é melhor deixarmo-nos estar quietinhos com a doce saudade que temos dentro de nós. Porque voltar para, apenas, recordar, pode deixar-nos um sabor amargo na boca.
É curioso que, quando a saudade nos aperta no peito, tendemos a não pensar nestas coisas e só queremos deixar de a sentir. Mas quando alguém nos fala dessa saudade que sente, apressamo-nos a desfiar o rol de recomendações que já sabemos de cor. Como me disse um amigo há uns tempos atrás: "Não tens saudades daquele lugar. Tens é saudades do tempo que passaste lá!" E na altura ele tinha razão!!!

quinta-feira, outubro 12, 2006

“O silêncio é a razão
De prever o que aí vem, ou não.
Em contas de mais ou menos
Não somos iguais.”

(Susana Félix)


A vontade de mandar tudo para o espaço está mais controlada, pelo menos por enquanto. Depois do impacto do confronto inicial, as coisas começam, ainda que num ritmo lento, a acalmar.
Hoje, logo pela manhã, ouvi esta música. O resto da música nada tem a ver com a situação, mas esta estrofe reflecte bem o momento.
A letra é bem clara – “Não somos iguais” – e talvez seja por isso que algumas coisas me atemorizam... Os próximos tempos serão decisivos...

terça-feira, outubro 10, 2006

"Escolhas"(I)

Nota prévia: O "Escolhas" é uma estória que comecei a escrever noutro lugar e à qual decidi, agora, dar continuação. Vou republicar aqui as três primeiras partes, anteriormente publicadas no meu antigo blog, para depois continuar a contar a história da "Marta" e do "Afonso". Espero que gostem.


“Ainda me recordo da primeira vez que nos vimos… Não foi nada romântico… Ficaste arreliadíssimo por eu ter entornado café por cima de ti, no meio da galeria…
Eras amigo do meu irmão Francisco, mas nunca te tinha conhecido… Quando ele nos apresentou fiquei expectante quanto à tua reacção… Estavas tão furioso que nem te apercebeste que eu era eu… “Afonso, esta é a Marta, a minha irmã mais nova!”… “Finalmente conheço a famosa Marta!”, disseste num primeiro momento para, no momento seguinte, fazeres cara de mau… “A menina é uma desastrada!”… Foi a minha vez de ficar furiosa com o tom arrogante e pretensioso com o qual proferiste tais palavras, e acabei por despejar o que restava de café, na minha chávena, por cima da tua gravata… Virei costas e saí…
Qual não foi o meu espanto quando, no dia seguinte, recebo em casa uma caixa de “Blue Rose”, nada mais nada menos que os meus bombons favoritos, acompanhados de um cartão que apenas dizia “Desculpe. Afonso”… “O Francisco”, pensei eu… Liguei-lhe e ele confirmou-me que lhe tinhas perguntado como te poderias desculpar pelo modo como tinhas falado comigo… Desliguei o telefone e fiquei sentada em cima da cama a olhar para a caixa e para o cartão… Qual não foi o meu espanto quando reparei que havia algo mais escrito no cartão – o teu número de telemóvel… Sorri… Coloquei o cartão em cima da mesa de cabeceira e fui tomar banho… Saí para o trabalho e nessa noite fui jantar a casa dos meus pais… O Francisco também lá estava… Contei-lhe sobre o conteúdo do cartão e ele riu-se… “Telefona-lhe!”… Prático como sempre…
Só voltei a olhar para o tal cartão dois dias depois… Liguei-te… Demoraste uns segundos a associar o nome à pessoa, mas a tua reacção foi engraçada: “Suponho que estou perdoado!”… Combinamos um café… Depois outro, e outro, e ainda outro…
Ao fim de três meses éramos, oficialmente, namorados… Aconteceu tudo muito rápido e passado pouco tempo vieste morar cá para casa… Acho que no dia em que te mudaste teve início o fim… Foi uma revolução na minha vida… De um momento para o outro tinha outra pessoa dentro da minha casa, a partilhar o meu espaço, a minha vida…No início foi muito bom… Mas eu não estava preparada, e tu nunca percebeste isso… E o desfecho foi o inevitável, pelo menos para mim…
Hoje, de cada vez que olho para as estantes tenho a falsa ilusão de que ainda estás aqui… Os teus livros, entre os meus, dão a sensação de uma presença irreal… Não levaste nada que te pudesse fazer recordar-me… E assim ficaram os livros que gostavas de ler-me, como se eu fosse uma menina pequenina, e os CD’s que compramos juntos, mais os que te ofereci e, ainda, os que me ensinaste a gostar… Livros que não voltei a folhear… CD’s que não voltaram a tocar… E as cartas… Aquelas que me escrevias quando me sentias mais distante e que julgavas que me levariam, de novo, para perto de ti… Nunca percebeste que algo tinha mudado… E por isso não foste capaz de acreditar que eu não tivesse outra pessoa quando te pedi para sair… Não conseguiste aceitar que eu quisesse, simplesmente, ficar sozinha… Não vês que não precisava de ter alguém para não querer ficar contigo??? Não conseguiste perceber que eu é que tinha mudado… “Os sentimentos mudam!”, disse-te na esperança de te fazer entender… “Gosto muito de ti, mas preciso de estar sozinha!”… Mas foram só palavras vãs… Não queria magoar-te, mas não podia continuar a sentir-me assim… “Não passas de uma menina mimada que quis brincar aos crescidos!”, disseste antes de saíres batendo com a porta… Foste embora e eu fiquei aqui… Sozinha, como queria ficar…
Sei que tens falado com o Francisco… Ele, até hoje, não conseguiu entender a minha decisão… Continua a dizer-me que cometi o maior erro da minha vida… Não quero pensar se ele tem razão, ou não… Mas na altura não poderia ter sido de outra maneira…
Um dia destes telefono-te… Há coisas que tenho de te dizer… Agora que já estás convencido de que não há outra pessoa na minha vida, pode ser que seja mais fácil para ti entenderes as minhas razões… O problema não eras tu… O problema era eu… Até porque ainda gosto muito de ti…”

sexta-feira, outubro 06, 2006

"Marley & Eu"




“Entrou nas nossas vidas exactamente na altura em que nós tentávamos perceber no que elas se iriam tornar. Juntou-se a nós enquanto nos debatíamos com aquilo que todos os casais acabam por se confrontar, o processo por vezes doloroso de forjar um futuro comum a partir de dois passados distintos. Tornou-se parte do nosso tecido comum, um fio intrincado e inseparável do entrançado que nós formávamos. Tal como nós ajudamos a fazer dele o animal doméstico em que viria a tornar-se, também ele ajudou a moldar-nos – como casal, como pais, como amantes de animais, como adultos. Apesar de tudo, de todas as desilusões e expectativas não correspondidas, Marley tinha-nos dado uma prenda, ao mesmo tempo grátis e sem preço. Ensinou-nos a arte do amor absoluto. Como dá-lo e como recebê-lo. Quando assim é, todas as outras coisas tendem a bater certo.”


"Marley & Eu"- A vida e o amor do pior cão do mundo,
John Gorgan


Enquanto lia este livro fui acometida de diversas emoções. Algumas vezes desenharam-se sorrisos no meu rosto, outras libertei umas boas gargalhadas, daquelas de fazer quem me rodeava olhar para mim com ar desconfiado, outras ainda fui incapaz de controlar umas quantas lágrimas rebeldes que insistiram em fugir dos meus olhos.
Um livro cheio de amor e emoção. Um livro escrito pelo coração de alguém que amou o seu cão de um modo incondicional. Aconselho-o a todos os que gostam de ler e a todos os que gostam de animais.

Demorei mais tempo do que é costume, em mim, a ler um livro. Mas valeu a pena cada minuto empreendido na leitura deste. “Marley & Eu” foi, sem dúvida alguma, um dos melhores presentes de aniversário que recebi este ano!

Muito obrigada! ;-)

segunda-feira, outubro 02, 2006

Há dias assim...


Há dias, como o de hoje, em que o silêncio e o sossego são mesmo os meus melhores amigos. Tudo o que quero é ficar calada e quieta no meu canto, sem que ninguém esteja constantemente a perguntar-me o que se passa, a organizar a mente ou, simplesmente, sem pensar em nada. Nestes dias, por vezes, dou folga à razão e alieno-me do mundo. E então, ou fecho-me no meu quarto e disfruto do meu tão prezado pequeno mundo, ou sento-me ao volante, abro os vidros (quando não chove, é claro), ligo o rádio e vou até à praia respirar a maresia e escutar o barulho das ondes a desfazerem-se na areia.
Hoje opto pelo silêncio do meu quarto. Estou num daqueles dias em que só me apetece esconder-me do mundo e aninhar-me num abraço fechado, daqueles que nos confortam a alma e nos fazem sentir que vai ficar tudo bem.
O céu cinzento e carregado, e a chuva que lá fora fustiga as janelas, fazem-me desejar ainda mais o silêncio e a quietude do meu quarto.
Não, não existe qualquer razão relevante para estar nesta neura. Simplesmente, há dias assim...